Centro Materno Infantil do Norte registou 3068 nascimentos em 2021. Instituição prepara ainda para este ano um novo sistema de acompanhamento das grávidas.
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O Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), no Porto, voltou a ser, no ano passado, a maternidade onde houve mais partos a nível nacional: 3068. Em segundo lugar ficou a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. Em 2019, o CMIN já tinha sido recordista de nascimentos no país. Na altura, foi a primeira vez que uma unidade do Norte atingiu o feito.
Em 2021, repete-se a situação. Apesar de ter havido uma diminuição geral do número de partos, que se traduziu em menos oito mil nascimentos em todo o país, Caldas Afonso, diretor do CMIN, rejubila com o desempenho da instituição: "É muito bom, porque expressa a massa crítica, que dá uma grande dimensão satisfatória desta estrutura. É nestas alturas que se vê o retorno do investimento público que aqui foi feito".
"Sendo uma maternidade, temos esta vocação de dar resposta a qualquer mulher que aqui nos chega, com maior enfoque nos casos mais complexos. Mas também é importante que este seja um local de satisfação e de segurança. E a nível das condições das instalações estamos iguais ou superiores a muitos hospitais privados", observa. Prova disso "é o facto de em Lisboa cerca de dez mil partos por ano ainda serem feitos no privado, enquanto que no Porto andarão pelos três mil".
Novo modelo
No CMIN, o serviço de Ginecologia/Obstetrícia é apoiado diariamente por seis médicos, há uma capacidade de 38 camas e fazem-se, em média, 10 a 12 partos por dia, referiu Caldas Afonso. E quando estão lotados? A resposta sai pronta: "Temos de ter sempre capacidade de resposta para todas as mulheres que nos chegam". E não tem dúvidas: o que "contribui muito" para que o CMIN seja a primeira opção de muitas grávidas "é o programa de acompanhamento da família".
Tanto que o CMIN, em parceria com um consórcio europeu, prepara-se para implementar "um novo sistema organizativo com cariz científico", permitindo à grávida "um conjunto de facilidades". No fundo, explicou Caldas Afonso, "é humanizar o parto de acordo com a expectativa de cada mulher. É como fazer um fato à sua maneira".
Desta reorganização do serviço "constam medidas simples, mas que podem fazer toda a diferença", como a grávida "passar a ter um acompanhante personalizado - que tanto pode ser um enfermeiro, um obstetra, uma psicóloga, uma nutricionista ou até uma assistente social, sempre que se desloque ao CMIN.
Componente informativa
A expectativa é que o modelo fique pronto para ser implementado no segundo semestre deste ano.
Muito deste trabalho de "otimizar a preparação para o parto em que é oferecida a experiência que a grávida quer ter" deriva também "da mudança clara, de há cinco a seis anos para cá, naquilo que é o tecido da população, com a presença cada vez maior de mulheres de países como o Nepal, o Paquistão, a China, e há que respeitar cada cultura". Este modelo terá uma componente formativa, que vai permitir ter dois alunos de doutoramento envolvidos.
O CMIN integra o Centro Hospitalar Universitário do Porto (inclui também o Santo António), que em 2021 bateu o recorde de cirurgias: 41 301, ou seja, cerca de 115 por dia.
Estivemos num hotel de cinco estrelas
No corredor, ouve-se uma mulher a dar um dos últimos gritos na sala de partos antes do bebé nascer. Mas quase ali ao lado, no quarto 9 do Centro Materno Infantil do Norte, impera um silêncio absoluto. Benedita Almeida, de 27 anos, e João Baltazar, de 29, aguardam ansiosos pela alta hospitalar que os fará levar a pequenita Mercedes, de apenas dois dias, para casa.
"Foi tudo fantástico!", desabafa a mãe de primeira viagem, que tinha receio de, "com a anestesia epidural, não ter forças para conseguir expulsar a menina".
Benedita andava a ser acompanhada no privado e era aí que "sonhava" ter o parto. "Dizia sempre que nem pensar ter a minha filha num hospital público", contou. Mas "umas complicações" no final da gravidez levaram-na a ser acompanhada no CMIN. "Estive aqui uma primeira vez em observações e depois os meus médicos aconselharam-me também a fazer aqui o parto", recordou.
A estreia "correu tão bem" que se Mercedes vier a ter um irmão, Benedita não tem dúvidas que voltará ao CMIN: "Estava com muito medo do parto, mas só posso dizer bem de toda a gente, desde médicos a enfermeiros. Foram todos fantásticos. Tanto que se algum dia tiver outro filho, nem coloco outra hipótese".
"Come e dorme"
Na hora do parto, "o medo do desconhecido" fê-la escolher a mãe como companhia. Mas Mercedes (que ganhou o nome de uma das avós de Benedita) dorme agora o "sono dos justos" no peito do pai babado.
"Desde que nasceu, só gritou uma vez à noite. Tem sido sempre assim: supertranquila. Come e dorme", conta João, que entre sorrisos lá confidencia que a bebé "de tão calma não sai ao pai nem à mãe".
Com a emoção à flor da pele, João acabou por contar que sempre sonhou "ser pai ainda cedo e de uma menina". Na hora da despedida da equipa técnica que os acompanhou, o pai de Mercedes elogiou o cuidado de quem "veio até de noite perguntar se estava tudo bem e se era preciso alguma coisa". Benedita rematou: "Estivemos num hotel de cinco estrelas".
"O parto em si é um momento de grande felicidade e ao mesmo tempo tem alguma brutalidade. É preciso ir limando alguns aspetos e procurar ir ao encontro da vontade da grávida".
"Há um défice de profissionais da Ginecologia/Obstetrícia. Quando algo corre mal, são eles que respondem. Trabalham no fio da navalha. No Centro Hospitalar e Universitário do Porto, são estimulados com a investigação".