Olha-se para o corpo pequeno, muito pequeno - são 6,3 quilos e 73 centímetros -, de Matilde e pergunta-se de onde vem a força toda que a faz sorrir a cada instante e que lhe permitiu enganar a morte por duas vezes e chegar até aqui, até ao ponto em que o Serviço Nacional de Saúde nada mais tem a fazer por ela.
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Diana Costa, a mãe, ficou a sabê-lo em outubro, quando a bebé de 16 meses não reagiu ao último de vários ciclos de quimioterapia - dois dos quais a deixaram entre a vida e a morte -, mantendo-se com a doença ativa, um monstro chamado leucemia mieloblástica aguda tipo B M5, espécie de totoloto ao contrário, porque muito rara em crianças, que se lhe colou ao corpo aos quatro meses de vida.
"O IPO [Instituto Português de Oncologia] diz que não há nada a fazer pela Matilde, mas há tratamentos em países como os Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha, e há muitos casos em que se consegue a cura. Por que é que nesses países há tratamentos e em Portugal estas pessoas são casos perdidos?", questiona. A apreensão dos pais cresce na proporção da certeza de que existe um dador de medula compatível: a irmã de seis anos. "A Matilde tem o dador, mas o país dela não tem nada para o tratamento de que ela precisa para a doença regredir e fazer-se o transplante", lamenta Diana Costa, que se desdobra em contactos com vários hospitais no estrangeiro, a fim de achar algum que aceite o "pesado processo clínico" da filha.
A esperança está na imunoterapia, um tratamento baseado na estimulação do sistema imunitário, mas cujo custo pode ascender a perto de meio milhão de euros, um valor impossível para Diana e Rui Costa, empregada de balcão e canalizador que tiveram de deixar os empregos para poderem acompanhar Matilde e cuidar das outras duas filhas, de seis e oito anos. A mãe atalha: "Se amanhã me mandarem entrar num hospital, eu não entro porque não tenho dinheiro, não tenho meio milhão de euros para salvar a minha filha".
Matilde, que acabara de regressar a casa após duas semanas internada no IPO, brinca e ri uma e outra vez, alheia ao facto de ter passado o último ano entre internamentos consecutivos que começaram em janeiro, por conta de bronquiolites e gastroenterites "astronómicas". Pergunta-se de onde vem aquele entusiasmo genuíno e não há resposta. Apenas a de Diana: "Apesar de tudo o que lhe acontece, a minha filha é um poço de riso, e é isso que nos dá força. Se ela continuar a lutar, eu luto com ela. Há uma cura e eu vou atrás dela. Vou bater a todas as portas".
Donativos e iniciativas
Os pais apelam à solidariedade de todos: aos que podem ajudar com donativos (o NIB é o 003503740000333780052) e a instituições que possam ceder espaços para eventos. Por isso, vão tentar expor a situação na Junta de Rio Tinto, onde moram, e na Câmara de Gondomar. O caso de Matilde está a ser divulgado na página de Facebook "Matilde força da natureza viva". v