A geada e a chuva destruíram cerca de 60 por cento da colheita dos produtores da Cova da Beira. Escassez provoca aumento do preço
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Este ano, a produção de pêssegos e nectarinas teve uma quebra de 60 por cento na zona do país que mais produz. Os dados são das associações e organizações de produtores da região da Cova da Beira (concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte, no distrito de Castelo Branco) que preveem que o preço desta fruta, na venda ao consumidor, duplique. "Os produtores têm que se adaptar às circunstâncias e reduzir os custos na mão de obra e na produção mas, como há pouco pêssego, quando chegar aos supermercados, o preço vai aumentar muito", disse ao JN Filipe Costa, sócio gerente da Cerfundão, uma organização de produtores.
Ainda com as contas feitas "por alto", na Cova da Beira foram colhidas menos 800 toneladas do que num ano considerado normal. A região tem cerca de 2500 hectares de terreno com pessegueiros e nectarineiras e, por colheita, obtém perto de 50 mil toneladas, de acordo com os números da Cerfundão. Este ano, tudo mudou. A forte geada que caiu nos meses de março e abril, altura em que as arvores estavam a florir, seguida de chuva intensa na primavera e de calor excessivo e seca, fizeram com que a produção anual ficasse irremediavelmente afetada.
Gonçalo Batista, produtor e membro da Appizêre, a Associação de Produtores e Proteção Integrada do Zêzere, costumava colher anualmente 1800 toneladas. "Este ano, conseguimos colher 1000 toneladas, mas há outros produtores que ainda tiveram quebras maiores", afirmou ao JN. As perdas serão agora compensadas, em parte, pelos seguros coletivos de colheitas feitas pelas associações de produtores.
Mais do que seguros de colheita, Maria Paula Simões, professora da Escola Superior Agrária de Castelo Branco, defende que é fundamental apostar na inovação e no desenvolvimento de técnicas de produção e tecnologia associada bem como a criação de um centro de experimentação na Região da Cova da Beira.
"Os produtores precisam de informação sobre programas para o melhoramento de espécies, sabendo que variedades de árvores se dão melhor na região onde têm os terrenos", referiu a especialista ao Jornal de Notícias.
Atualmente, os produtores vão comprar árvores ao estrangeiro, mas sem saber se essas espécies se adaptam ou não ao clima português. "Com a criação de um polo de experimentação, as variedades seriam testadas no clima da Cova da Beira e seria possível saber quais a que resistiam melhor ao clima", explicou Maria Paula Simões.
"A região foi abandonada durante muitos anos e está na altura de se voltar a apostar nela", finalizou a professora da Escola Superior Agrária de Castelo Branco.
O pomar das frutas de caroço
A Cova da Beira é principal região onde se produzem cerejas, pêssegos, nectarinas, peras e maçãs. Cerca de 50% do volume da fruta de caroço colhida em território nacional, vem de árvores plantadas nestes três concelhos do distrito de Castelo Branco. O clima, quase sempre favorável às arvores de fruta, e a geografia do terreno fazem com que a zona seja conhecida como o "pomar" de Portugal. Este ano, as condições climatéricas reduziram drasticamente as colheitas.