"Vai ser desta que vão resolver". As palavras da assistente da Junta do Bonfim já não convencem os moradores do Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, no Porto, que voltaram a ser surpreendidos pelo mau tempo. O cenário da enxurrada de janeiro voltou a assombrar as famílias, que pedem urgência para o seu realojamento.
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Faltavam poucos minutos para as 21 horas desta quarta-feira quando Jorge Teixeira viu a água a entrar-lhe pela casa "como se fosse um rio". "Tive dois metros de água dentro de casa", disse o morador do número 8 daquele bairro.
Os três filhos tiveram de ir para casa de familiares, enquanto Jorge e a mulher passaram a noite a retirar a água "balde a balde". A casa ficou sem condições e o realojamento foi confirmado ainda na manhã desta quinta-feira pela Câmara do Porto, através da Domus Social.
Outra família das Fontainhas teve alojamento garantido na noite de quarta-feira, sendo encaminhada para o Seminário de Vilar, também no Porto.
Mas os pedidos de ajuda continuam para os restantes moradores. Com o inverno a aproximar-se, a comunidade receia que o cenário se repita e pede uma intervenção urgente: "Nenhum humano tem condições para viver assim. Precisamos todos de ajuda", disse Jorge Teixeira.
A Câmara do Porto adiantou que continua em negociações com os 23 senhorios daquele bairro para a sua expropriação e compra.
Noite sem descanso
"Era um rio a correr por debaixo da porta". As palavras de Teresa Almeida, que mora no centro do Porto, na Rua do Bonjardim, retratam o cenário de "uma noite horrível", que não deu lugar a descanso.
Lesada pelas inundações, Teresa passou a noite a tirar água de casa, principalmente no rés-do-chão, onde a água lhe chegou "até aos joelhos". "É surreal. A água ouvia-se como uma torneira", declarou Teresa, surpreendida pela força do mau tempo.
Pela manhã, a moradora foi surpreendida pelo piquete dos Bombeiros Sapadores do Porto, que investigou o risco de curto circuito.
Em Gondomar, onde também houve dezenas de ocorrências, a enxurrada fez ruir a parede de uma casa.
Escolas fechadas
As inundações obrigaram a que várias escolas do país não abrissem portas. Foi caso da EB 2,3 Cego do Maio, na Póvoa de Varzim, da Escola Secundária de Mem Martins em Sintra, ou da Escola Básica Montes da Costa, em Ermesinde, Valongo.
Neste último estabelecimento, o dilúvio veio agravar uma situação que se arrasta há três anos: "Sempre que chove, as crianças não vão para a escola. Está sempre a acontecer porque faltam obras", referiu Fátima Lemos, que tem duas filhas naquela escola.
Segundo a encarregada de educação, o estabelecimento de ensino terá cerca de 150 alunos, que na manhã desta quinta-feira foram avisados para permanecer em casa, uma vez que "a escola não tinha condições para receber os alunos, devido ao mau tempo".
Ao JN, a Câmara de Valongo referiu que a escola "tinha problemas de infiltrações que foram resolvidos, no ano passado, pelos serviços do Município de Valongo".
"A entrada de água ocorrida esta noite deveu-se à grande precipitação, fora do normal, e ao facto das caleiras não reterem a grande quantidade de água, que transbordou. Para resolver definitivamente o problema os serviços do Município vão, já esta sexta-feira, proceder ao levantamento das necessidades para substituir todas as caleiras da escola, aumentando o caudal", acrescentou a autarquia.
O Município considerou ainda que o encerramento da escola na manhã desta quinta-feira foi "uma decisão precipitada da Direção do Agrupamento de Escolas de São Lourenço", uma vez que a meio da manhã, "o problema que afetou sobretudo a cantina da escola estava resolvido".