"Medicina de guerra": hospital de Penafiel com dezenas de internados nas urgências
O Hospital Padre Américo, em Penafiel, tinha, na manhã desta terça-feira, 71 doentes em macas no serviço de urgência, a aguardar uma vaga em internamento.
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Nos últimos dias, a situação tem sido caótica naquela unidade que faz parte do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (juntamente com o Hospital de São Gonçalo, em Amarante) e, segundo Miguel Vasconcelos presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, poderá piorar nos próximos dias, depois dos ajuntamentos associados às festas natalícias.
“Na manhã de hoje, havia 71 doentes a aguardar vaga em internamento, muitos deles em macas dos bombeiros, visto o Hospital não ter macas disponíveis”, denunciou Miguel Vasconcelos, acrescentando que o Hospital não está a ser capaz de dar resposta às reais necessidades dos doentes, o que pode resultar “na falta de prestação de cuidados dignos aos doentes e de condições de trabalho para os profissionais”.
Segundo este dirigente, a falta de condições e de espaço para acolher os doentes têm-se sentido há vários dias, tendo levado o Hospital a abrir todas as salas disponíveis e a colocar cinco camas nos corredores de todos os serviços. “Mas nem assim está a conseguir dar resposta porque os recursos humanos não são infindáveis e continuam a ser medidas insuficientes para as necessidades do hospital que, sabemos, está subdimensionado”, referiu, lamentando ainda a “indefinição” quanto à gestão do Hospital, visto ter sido anunciada a saída de funções do presidente do Conselho de Administração para entrar em funcionamento o novo sistema, a Unidade Local de Saúde. “É um barco sem rumo e sem líder”, concluiu.
Triagem demora 30 minutos
"Aquilo é quase uma medicina de guerra", comentou à Lusa o comandante Alexandre Pinto, da corporação de Baião, referindo-se aos constrangimentos observados, quando, às 12.30 horas, se encontravam "mais de 50 doentes" na urgência do Hospital Padre Américo.
Só a triagem, anotou, demora cerca de 30 minutos e as ambulâncias ficam retidas várias horas.
"Hoje de manhã estavam lá 25 ambulâncias", referiu, explicando que o serviço não tem capacidade para atender tantas ocorrências, a maioria do foro respiratório.
A urgência do Hospital Padre Américo é a única com capacidade médico-cirúrgica do centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), que inclui também o Hospital de São Gonçalo, em Amarante, onde funciona uma urgência básica.
Também os bombeiros de Castelo de Paiva têm enfrentado dificuldades nos últimos dias, quando transportam doentes para Penafiel, o hospital de referência.
À Lusa, o comandante Joaquim Rodrigues indicou ter conhecimento do caso de uma ambulância que ficou retida 12 horas, porque as macas estavam a ser utilizadas pelo hospital.
Na manhã desta terça-feira, contou, chegou a ter três ambulâncias no hospital, mas também de um caso encaminhado para Arouca pelo CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), por falta de capacidade de Penafiel.
Adultos atendidos em pediatria
Os comandantes de Felgueiras e de Amarante, ouvidos pela Lusa, confirmaram o cenário de grandes dificuldades no hospital de Penafiel.
Júlio Pereira, de Felgueiras, disse à Lusa que o tempo de espera de um doente com pulseira amarela é de 10 horas. Anotou ainda que, face à sobrecarga de serviço, há doentes adultos que estão a ser atendidos em pediatria.
Rui Ribeiro, de Amarante, afirmou ter conhecimento das dificuldades no Padre Américo, mas ressalvou que o hospital de São Gonçalo, em Amarante, que também integra o CHTS, tem conseguido dar resposta à maioria das situações, com um tempo de espera normal nesta altura do ano.
Quanto a Penafiel, para onde são encaminhados os doentes que carecem de cuidados mais especializados, o tempo de espera é acima do normal, admitiu.
Já o comandante dos bombeiros de Marco de Canaveses, Sérgio Silva, fala de uma situação muito complicada para a sua corporação provocada pela falta de capacidade do hospital.
Nas últimas horas, contou, teve uma ambulância retida no hospital de Penafiel das 6.30 horas às 11 horas, porque o doente estava na maca da ambulância no interior da urgência.
"Isso não pode acontecer ficarmos sem a ambulância tanto tempo. Isso coloca-nos muitos problemas nos meios disponíveis para prestarmos socorro à população", sinalizou.
As dificuldades em Penafiel, acrescentou, têm obrigado também a um maior número de transportes de casos urgentes para os hospitais do Porto, o que retém ambulâncias entre cinco a seis horas.
A Lusa contactou a direção do CHTS para obter uma reação ao cenário relatado pelas corporações de bombeiros, mas não obteve resposta até ao momento.
O CHTS integra desde o início do ano a nova Unidade Local de Saúde (ULS) do Tâmega e Sousa, que passa a ter como diretor clínico o médico intensivista do hospital de São João Nelson Pereira.
A ULS Tâmega e Sousa assumiu a gestão dos hospitais públicos e dos centros de saúde daquele território, formado por 12 municípios.