É uma história de amor e tristeza, de paixão e desgosto. Mas, sobretudo, de esperança num mundo melhor, onde o humanismo, a cooperação e as boas ações sejam reconhecidas. E é um exemplo de coragem de um homem com uma vida intensa que se viu aprisionado por uma doença mas que se recusa a afogar-se nela.
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Médico intensivista com várias missões humanitárias vividas nos piores cenários de guerra, Gustavo Carona viu miséria e sofrimento de perto. E viu gente, como ele, a tentar fazer muito com pouco.
O trabalho de intervenção social, tantas vezes invisível, merecia ser valorizado publicamente, pensou. E a ideia dos Prémios Coração e o Mundo surgiu-lhe assim, como "um sonho", há quatro anos. "Compenetrado na paixão pela medicina e pelas missões", teve de deixar o projeto adormecido, mas resgatou-o agora, que a dor crónica o obrigou a parar e lhe deu tempo.
"Na minha opinião, esta é uma das coisas que podemos fazer para mudar a sociedade para melhor. Sou a favor que se premeie os valores, a bondade. Premiamos a riqueza, o sucesso - no sentido materialista -, as conquistas desportivas e a competição, quando a sociedade deveria ser cooperação", diz-nos Gustavo Carona, que conta pôr no ar, num canal de televisão, a gala dos prémios no final de setembro, para que o projeto "tenha um impacto nacional significativo".
Há 17 categorias e, para cada uma delas, o júri, composto por "pessoas com experiência na área social", vai nomear, em finais de maio, quatro organizações, entre os candidatos que foram sendo sugeridos desde que, em novembro, o médico de 42 anos lançou nas redes sociais o desafio de pôr o prémio no terreno. Dos quatro nomeados, o público vai ser chamado a escolher um vencedor por categoria, para que seja possível "envolver as pessoas" na iniciativa. Mas, no fim, as 68 organizações selecionadas pelo júri vão receber um prémio monetário equivalente, para que haja igualdade.
"Esta é uma causa que pretende ajudar todas as causas", ambiciona o intensivista de Matosinhos, que se fez rodear de uma equipa de cerca de duas dezenas de voluntários que todos os dias o ajudam a dar mais um passo na concretização deste sonho antigo.
Para Gustavo Carona, que vive a nova missão a tempo inteiro, esta é, também, uma forma de se sentir útil e de se distanciar da tristeza e do desgosto de estar afastado da medicina. "É uma reinvenção de mim próprio. É a vontade de transformar uma fraqueza em força e em algo bonito que daí possa nascer", confessa o médico, que tem de trabalhar deitado para não agravar as dores.