Paróquia apoia pessoas com refeições e padre teme que situação possa agravar-se.
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"Em Espinho não temos tido subidas exponenciais. Tendo em conta o panorama nacional, podemos dizer que a situação está, por enquanto, controlada". É assim que o presidente da Câmara, Pinto Moreira, descreve o atual momento no concelho perante a pandemia de Covid-19.
Cauteloso, o autarca alerta que o cenário pode mudar, mas, de acordo com os dados recolhidos até ao momento, o crescimento de infetados "tem sido lento". Uma realidade que atribui às medidas tomadas atempadamente pelo Executivo e que terão contribuído para "abrandar" a situação epidémica. Os primeiros dois casos positivos no concelho surgiram a 14 de março. Mas algumas medidas de contingência mais musculadas foram tomadas dias antes.
A 11 de março, por exemplo, foi ditado o encerramento de espaços geridos pela Autarquia como piscinas, pavilhões e museus. Um dia depois, foi suspensa a icónica feira semanal, que recebia milhares de pessoas todas as segundas-feiras. Seguiu-se a interdição das praias do concelho e, a 17 de março, foi ativado o plano de emergência municipal.
No final de março, foi criada a zona de concentração e apoio à população na Nave Polivalente com capacidade para 250 doentes e no parque de campismo foram colocadas tendas para acolher os sem-abrigo.
Com a situação económica das famílias e empresas a agudizar-se, a Câmara aprovou 31 medidas de apoio, no valor de 1,24 milhões.
Voluntários ajudam
"Ainda recentemente ouvi gente a gritar a dizer que tem fome. A situação está complicada e pode piorar", garante, por sua vez, o padre da Paróquia de Espinho, Artur Pinto, que lidera um grupo de voluntários que tenta minimizar a carência alimentar e os momentos crescentes de solidão entre os idosos.
O pároco diz que as solicitações para o grupo já são "permanentes". Os cerca de 80 voluntários não têm mãos a medir, distribuídos por diversas tarefas, que passam pela compra e entrega de alimentos, aquisição de medicamentos, ou pagamento de despesas relacionadas com rendas e bens essenciais.
A cantina da paróquia reflete o momento que se vive atualmente. "Partimos com a disponibilidade de 50 refeições por dia e estamos a dar, neste momento, cerca de 100. Temos cinco pessoas na cozinha a confecionar refeições", refere o padre.
Artur Pinto afirma que se trata de gente que "vivia do trabalho temporário ligado ao turismo e restauração, dos biscates, das esmolas e de estacionar carros que, agora, está sem qualquer apoio ou proteção". O pároco lembra que os restaurantes estão fechados: "Não há as sobras do dia que os iam alimentando. Agora não há nada, está tudo parado".
Para dar resposta às crescentes solicitações, Artur Pinto sublinha que as ofertas de géneros alimentares são imprescindíveis, assim como o apoio de mais voluntários. "Estamos a prever um aumento muito grande das necessidades e toda a ajuda é bem-vinda".
Os voluntários estendem a sua ajuda ao apoio psicológico de quem está só. "Há muita gente em solidão. Quem ligue a chorar por estar sozinho", confirma o padre. A paróquia efetua contactos diários com cerca de três dezenas de idosos para uma "palavra amiga e de apoio". Quem pretender beneficiar da ajuda deste grupo pode contactar a Paróquia de Espinho pelo telemóvel 965 034 626.
lares preocupam
"Ao longo destes dias tentamos dar sempre as respostas mais abrangentes possíveis e com a devida antecedência. As medidas que tomamos estão a permitir ter um controlo da situação", diz Pinto Moreira, particularmente inquieto com os lares de idosos. Há uma "preocupação permanente" em fazer a atualização dos planos de contingência destas instituições.
"Não tinham os seus planos atualizados para uma possível contaminação nas suas próprias instalações", explica Pinto Moreira.
DETALHES
Primeiro óbito - Espinho registou o primeiro óbito por Covid-19 no dia 1 deste mês. O segundo foi no dia 8.
Cerca desrespeitada - A 18 de março foi decretado a cerca sanitária no concelho de Ovar e o presidente da Câmara de Espinho veio a público alertar para o incumprimento. "A cerca sanitária parece um queijo suíço" afirmou, mostrando a sua "profunda preocupação" pelo contínuo desrespeito da cerca.
Muita cautela - Sobre os próximos dias, o autarca não arrisca: "A situação é tão complexa que prognósticos só no fim do jogo".
Escola convertida - A antiga Escola da Seara, em Silvalde, foi preparada para acolher um grupo de reforço constituído por 50 bombeiros e 15 veículos. Em caso de necessidade, o espaço poderá ser convertido para acolher pessoas que necessitam de permanecer em quarentena
Oferta de doces - Pão de ló, regueifa doce, sortido húngaro, pão e outro tipo de pastelaria, vai ser entregue aos sem-abrigo que estão temporariamente instalados no parque de campismo de Espinho. A oferta é da padaria e pastelaria AIPAL.