Moradores e trabalhadores na Avenida de França, no Porto, foram pedir ajuda ao presidente da Câmara, Rui Moreira, na reunião de Conselho Municipal de Segurança desta sexta-feira. Em causa, dizem, está "um grupo" que ocupa um edifício estatal devoluto e ameaça diariamente a população. O autarca vai ordenar a vedação.
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O "medo está a instalar-se" na Avenida de França, no Porto. Um grupo de moradores e trabalhadores da Avenida de França e de outras ruas adjacentes foi pedir uma ação mais forte ao Conselho Municipal de Segurança, esta sexta-feira. Há um grupo atualmente a ocupar o antigo edifício militar que urina e defeca em jardins privados, enchendo-os também de entulho: garrafas de gás, tachos com restos de comida, etc. Os serviços municipais de limpeza "vão lá de manhã mas à noite [o grupo] volta a sujar". "As rampas estão cheias de urina e com um cheiro desagradável", denunciaram.
O grupo em causa está atualmente a ocupar o antigo edifício da Direção de Recrutamento Militar, que está devoluto. Atualmente, é propriedade do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU). De acordo com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, já deram entrada no Município pedidos de licenciamento para converter o edifício em habitação. Mas, quando notificado para o cenário atual, nota o autarca, o IHRU diz tratar-se de um grupo de sem-abrigo, encaminhando uma eventual resolução para o NPISA (Núcleo de Planeamento e Intervenção a Pessoas em Situação de Sem-Abrigo). Mas a população é unânime: não é disso que se trata.
Por isso, Moreira garantiu acionar os serviços da Proteção Civil para vedar o prédio. "Vamos utilizar um recurso que temos e invocar estado de necessidade. Mas não vai resolver o problema todo porque não é apenas dentro desse edifício que se localiza este problema", admitiu o autarca, assumindo alguns entraves legais quanto a mais ações municipais.
"Reagem agressivamente"
Sempre que são abordados por quem mora ou trabalha na zona, os indivíduos "reagem agressivamente", estejam ou não na presença de crianças. Aliás, já houve até ameaças diretas a netos e filhos de quem mora na Avenida de França. A população descreve mesmo o comportamento do grupo como se de uma "organização criminosa" se tratasse. "Vivem do roubo e há duas semanas assisti a prostituição", ouviu-se esta manhã, havendo também relatos de corridas ilegais.
O desconforto da população agrava-se ainda com a utilização indevida da água dos jardins. "Temos de fechar os passadores dos jardins para não utilizarem a nossa água". Tanto que, em alguns casos, houve quem já recebesse uma fatura de 900 euros para pagar. "Temos visto cada vez mais a presença de elementos masculinos mais novos e irredutíveis nas suas ações", descreveu outro morador.
O comandante da Polícia Municipal do Porto, António Leitão da Silva, um dos 35 conselheiros presentes na reunião, afirma conhecer a situação desde 2017. O grupo, relata, "estava nos terrenos da Infraestruturas de Portugal (IP) na estação ferroviária da Boavista e, fruto da intervenção do metro, passou para a Casa da Música". "Sabemos o que nos estão a contar", reconheceu.
"Tenho medo de entrar em casa. São pessoas que não vieram a fugir de nenhuma guerra nem para melhorar as suas condições de vida. As pessoas andam em pânico", relata mais um portuense.