Empresas privadas garantem não ter capacidade para repor horários anteriores ao estado de emergência.
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As operadoras privadas de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto vão manter, para já, os cortes nos horários e as supressões de linhas que tinham sido definidas para o período de estado de emergência. A decisão baseia-se na falta de capacidade financeira para voltar à normalidade, mas para os passageiros, que voltaram a carregar o título de transporte, esta opção acarreta problemas.
Gondomar é um dos concelhos onde as reduções estão a causar mais indignação, mas o cenário estende-se a outros concelhos do Grande Porto, como Gaia e a Matosinhos.
"De Covelo ou de Gens só há três camionetas por dia. Quem tem de ir trabalhar tem de se aprumar ou de pedir boleia. Pagamos o passe, por isso não acho justo", atira António Pinto, gondomarense de 71 anos, que espera pela camioneta para Ferreirinha.
Na Espírito Santo, empresa que opera em Vila Nova de Gaia, os horários também foram reduzidos, tendo sido suprimidas as carreiras aos domingos e feriados. Luís Espírito Santo, sócio-gerente da empresa, garante que é possível fazer o reforço. "Ainda não o fizemos porque não se justifica", esclarece.
A ANTROP - Associação Nacional de Transportes de Passageiros, que revela que as paralisações devido à covid-19 provocaram prejuízos na ordem dos 20 milhões, já pediu apoios aos Governo. "As empresas estão a fazer um esforço acima do possível e se houver necessidade de reforços, não vão ter capacidade. Só em receitas perderam, no último mês, 60 milhões de euros", diz Luís Cabaço Martins, presidente da associação.
Sem capacidade financeira
Ao JN, a Gondomarense garantiu querer reforçar a oferta, mas admitiu que não tem "capacidade financeira" para o fazer, já que em abril não gerou receitas devido à suspensão dos carregamentos do título de transporte. "Se aumentássemos a frequência, as perdas seriam maiores", revelou Manuel Baptista, gerente da Gondomarense.
"O nível de procura tem sido analisado todos os dias e na terça já fizemos ajustes em algumas linhas", revelou o responsável.
Dos 205 trabalhadores, a Gondomarense tem 81 em lay-off. "Não conseguimos fazer mais. A decisão tem de ser política e a Área Metropolitana do Porto (AMP) e as câmaras têm de olhar para este problema", remata Manuel Baptista. Os ajustes parecem não ser suficientes.
"Tenho de sair às 6.10 horas de casa para estar no trabalho porque só há camioneta de hora em hora", reclama Maria Conceição Leite, moradora em Jovim, Gondomar.
Marco Martins, presidente da Câmara, admite que este tem "sido um problema difícil de gerir, já que têm sido mais os custos do que os ganhos". "A Câmara de Gondomar não consegue injetar dinheiro e por isso já pedimos ajuda ao Governo", assume o autarca.
Em Matosinhos, a ViaMove, empresa que opera neste concelho, mantém a oferta do mês passado, "assumindo que corresponde às necessidades de mobilidade da população". "Não podemos fazer um aumento cego", advoga Pedro Morais, gerente da ViaMove.