
Comerciantes consideram que festas populares no início de agosto nos arredores de Viseu afastam visitantes da Feira de São Mateus
Viseu Marca
Comerciantes dizem que certame devia começar mais tarde e apontam ao “pouco poder de compra” dos visitantes.
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Já lá vai quase um mês da edição número 632 da Feira de São Mateus, em Viseu, sendo que este ano a guardiã das feiras populares arrancou mais cedo, a 1 de agosto, e termina a 8 de setembro. Apesar da meteorologia estar a ajudar e o cartaz também ser atrativo, quem faz negócio no recinto - são mais de 230 expositores - diz que os bilhetes de entrada, que variam entre os cinco e os dez euros em dias pagos, deviam ser mais baratos. A Viseu Marca, entidade que organiza o certame, explica que dos 39 dias, mais de metade tem entrada gratuita (22) e mostra-se disponível para fazer ajustes.
A organização salienta ainda que a “elaboração do preço para os concertos inclui não só o cachê dos artistas, mas também as questões relacionadas com a segurança dos espetáculos”, num processo que tem o parecer da coordenação de segurança.
Carlos Gonçalves, proprietário das farturas Brunato, confessa que, para já, não está a faturar “nem mais nem menos” do que o habitual, mas é da opinião de que “a feira não pode abrir tão cedo”. “Só a partir do dia 8 de agosto é que o negócio tem corrido melhor.” Na feira há 52 anos, Carlos, natural de Chaves, tem a explicação para isso: “Os emigrantes chegam na última semana de julho e procuram as praias. Só na segunda semana em Portugal é que vêm para a feira. Já os viseenses só vêm em setembro”.
Expectativa alta, adesão baixa
Pedro Costa, da Aduç’arte, um espaço de gelados e granizados, faz negócio na feira há mais de duas décadas e admite que o balanço, até agora, “não é muito positivo”. “Os emigrantes, este ano, vieram menos à feira e aqueles que vieram gastaram muito menos”, confessa.
A crise também bateu à porta do restaurante Cachorro Teimoso. Nuno Lima teve de despedir dez empregados na primeira semana do certame. De um total de 45 funcionários ficou apenas com 35 e espera conseguir mantê-los até ao último dia. “Estávamos com as expectativas muito altas e a adesão foi fraca. O preço dos bilhetes penso que também tenha influência”, avança. “As pessoas acabam por vir apenas assistir ao concerto e já não vêm jantar.” Nuno Lima diz ainda que algumas festas na periferia de Viseu, com nomes bem conhecidos e de entrada gratuita, também “roubaram” visitantes.
Amílcar Sequeira, do restaurante O Viso, faz a feira há quase 20 anos e admite que 2024 “está a ser um ano incerto”. “Há dias com muita gente e outros dias sem ninguém”, o que traz muitas complicações para o negócio.
No negócio da roupa interior, há quem diga que este é o pior dos últimos 12 anos. É o caso de Isabel Henriques. “Os dias de entrada livre são sempre melhores para o negócio”, avança.
Apelo à transparência
A Viseu Marca, entidade que organiza a Feira de São Mateus, em Viseu, afirma que o número de visitantes tem estado a corresponder às expectativas, tendo já havido dias que registaram cerca de 40 mil visitantes, mas deixa um apelo aos expositores.
“Desde há três anos que apelamos aos comerciantes para que sejam verdadeiros parceiros e divulguem o volume de negócio feito, de forma que a Viseu Marca possa assumir algum risco desse negócio junto dos feirantes e os possa ajudar”, esclarece, explicando que existindo uma transparência total do valor das vendas efetuadas, seria possível haver uma partilha de risco e, se for o caso, ajustar o valor das rendas.
