Há 204 empresas que enchem os pavilhões do Mercado Abastecedor do Porto (MAP), onde a azáfama é constante. O negócio precisa de espaço para crescer. Entre os clientes, há cada vez mais restaurantes, fruto da explosão turística na cidade.
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Não faltam projetos para que o MAP, criado há 31 anos, continue a evoluir. Mas, para crescer, o negócio tem de aumentar os atuais 12,5 hectares ou mudar de instalações. Uma solução equacionada há anos, mas que nunca saiu do papel, uma vez que a atual localização, encostada à VCI e junto ao Estádio do Dragão, traz vantagens.
Para já, em cima da mesa, a par das obras de conservação ao longo dos anos, há um projeto para criar mais 120 lugares de estacionamento num gaveto em frente à plataforma atual do mercado. O plano, que aumentará a capacidade de 1000 para 1120 lugares, aguarda o aval da Câmara do Porto. Segundo Ana Paula Sá, diretora do MAP, a ideia é interligar o espaço ao mercado através de uma ponte pedonal. O JN contactou a Câmara, mas não obteve resposta.
45 mil viaturas por mês
Pelo Mercado Abastecedor, passam mais de 45 mil viaturas todos os meses, correspondendo a mais de 2700 compradores. A maioria é do Porto e de Aveiro. De domingo a sexta-feira, enchem-se as carrinhas para abastecer vários comércios. É um mundo à parte, onde tudo existe em doses XL. Só no ano passado, entraram 112,5 mil toneladas de hortofrutícolas.
"Não é possível, por limitações espaciais, aumentar o nosso volume de negócios", adiantou Ana Paula Sá.
Fernando Ribeiro, vendedor no MAP desde os 18 anos, testemunhou a evolução nas condições de trabalho e no comércio. Com o boom turístico, as suas vendas para a restauração aumentaram 60%, permitindo equilibrar as contas numa altura em os supermercados perderam clientela para as grandes superfícies. "Trabalhava com dez restaurantes, agora trabalho com 70. Em termos globais, com a perda dos supermercados, as vendas não aumentaram tanto", conta o proprietário da Vida dos Legumes, que aumentou a frota para responder ao aumento dos pedidos de entregas.
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Acionistas
Há três grupos de acionistas no Mercado Abastecedor. A Câmara do Porto detém 25,5% do capital social, dividindo-se o restante em partes semelhantes por dois grupos: um de entidades produtoras agrícolas, outro de entidades ligadas ao comércio grossista.
Estátuas
No recinto do mercado há quatro esculturas, todas da autoria de artistas portuenses.
Toneladas de lixo
Há comerciantes que doam os produtos que não são vendidos a instituições de solidariedade social. O lixo produzido - 17 toneladas mensais - é separado.
Reportagem
O dia a dia de quem trabalha para abastecer a região Norte
Os dias são trabalho árduo, quer faça sol ou chuva. Do Algarve ao Douro, chegam carrinhas de fornecedores. Trazem de tudo: fruta, legumes, bolachas... Cabe aos empilhadores, que aceleram pelo recinto do Mercado Abastecedor do Porto (MAP), levar a mercadoria até aos pavilhões. Por lá, fazem-se contas, enquanto entram os clientes. Entre os compradores, há lojas e empresas ligadas à restauração.
De papel na mão ou com a lista decorada, fazem-se as compras. Nas carrinhas, que chegaram vazias, acomoda-se a carga. Poucos minutos antes das 16 horas - hora limite permitida para a saída dos produtos - ligam-se os motores. A espera é feita junto às cancelas da portaria. Segue-se a revenda ao consumidor final.
Temos muitos clientes antigos
Carolina Oliveira é do tempo em que o MAP tinha apenas um pavilhão. Nessa altura, eram escassas as horas de sono. Às 21 horas já estava a guardar vez para fazer as compras que, ao nascer do dia seguinte, revendia porta a porta. Os filhos também ajudavam. "Como o mercado só abria às seis horas, fazíamos um buraco na rede para entrar. Parecíamos ladrões a entrar para a propriedade alheia", disse. A "vida de escravidão" acabou quando o mercado deixou de funcionar à noite. Desde então, as vendas também mudaram. "Já não são como antigamente. Mas não me posso queixar. Temos muitos clientes antigos", garante Carolina Oliveira, de 62 anos.
O revendedor levava mais
Há sete anos, José Pereira trocou o Mercado Abastecedor de Coimbra pelo do Porto. A venda de hortofrutícolas passou de geração em geração, assim como a herança de uma rotina, "de várias horas de trabalho". Os produtos chegam frescos todos os dias. Embora o aumento do turismo tenha dado novo ânimo às vendas para a restauração, não compensou a quebra com o encerramento dos supermercados. "O cliente revendedor levava mais quantidade", explicou.
Ando sempre à descoberta
Até chegarem ao destino, os frutos secos que José Pereira deixa no MAP percorrem um caminho de mais de 200 quilómetros. Vêm da serra da Estrela. Na volta, a mala da carrinha não regressa vazia. "Acabo por fazer as compras que preciso para as minhas lojas. Ando sempre à descoberta de produtos diferentes", contou.
É preciso alterar algumas coisas
Em Oliveira de Azeméis, as "Frutas Duarte" são um negócio de família. Ao leme está Paulo Duarte, de 45 anos, que conhece o MAP desde tenra idade. Na altura, acompanhava os pais nas compras para encher as prateleiras da loja. Na memória guarda os dias em que saía de casa às duas da manhã com destino ao mercado. Quando deixou de funcionar de madrugada, trouxe melhorias ao nível pessoal. No entanto, Paulo defende uma restruturação no mercado. "É preciso alterar algumas coisas, como as condições de trabalho e de cargas e descargas", referiu.
Há um acréscimo de atividade
Qualidade e frescura são duas das coisas que Paulo Gorgueira procura no MAP. Os produtos que lá compra três vezes por semana servem para abastecer o "Fumeiro", o estabelecimento que tem no Porto. Nos últimos anos, à boleia do turismo na cidade, a quantidade que compra também aumentou. "Desde 2016, houve um acréscimo de atividade. Antes, como se vendia menos, comprávamos menos", disse Paulo Gorgueira.
Há preocupação de melhorar
Desde que a empresa foi criada, há mais de 40 anos, a produção tem aumentado para dar resposta à procura. Em Armamar, Artur Paula tem cerca de 15 hectares para lavrar. No pomar, há cerejeiras, macieiras, pereiras e ameixeiras. As colheiras são vendidas na Frutipaula, a banca que tem no MAP. Todos as manhãs, há fruta fresca, embalada no dia anterior. Os preços variam consoante a procura e a oferta. Há épocas em que o quilo da maça pode começar nos 50 cêntimos e atingir os 1,5 euros. "O mercado tem evoluído e tem as condições aceitáveis para o exercício da atividade. Há uma preocupação em melhorar as infraestruturas", referiu.