Mercados de velharias e usados resistem e marcam praças e jardins de vários concelhos do Grande Porto.
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Para uns, é quase um vício: estão sempre em busca de novidades antigas, que compram para vender em várias feiras de velharias e usados pelo Porto e arredores. Para outros, é ainda uma distração, que vale sobretudo pelo convívio e amizade entre feirantes. Seja como for, há sempre uma feira, a cada fim de semana, a animar uma praça, um jardim ou um mercado - desde que S. Pedro e a pandemia permitam.
Os comerciantes dizem que o negócio se vai recompondo, após a paragem forçada pela crise sanitária, mas ainda não retomou o ritmo dos tempos em que ninguém imaginava vir a precisar de máscara a desinfetante para ir a uma feira. "Acho que as pessoas ainda estão com algum receio. E as coisas estão a piorar...", lastima Abel Pacheco, que acabara de negociar a venda de um tacho de cobre de valor regateado até à última. "Vai bem servido, leva aí uma peça", dizia ao cliente Maria de Jesus, com quem o vendedor partilha a vida e a banca na Feira de Antiguidades da Póvoa de Varzim.
"Por brincadeira"
O casal de Fafe, que viveu emigrado na Suíça, começou a fazer feiras "por brincadeira, há sete anos", e já não passa sem esse "convívio, que faltou muito" quando a pandemia obrigou a decretar a suspensão destes mercados. "Tinha o bichinho das antiguidades, e comprei uma casa, em Fafe, que tinha coisas antigas. Comecei a vendê-las na feira e achei graça", recorda Abel.
Concorrida, numa manhã de domingo, a banca de brinquedos dos portuenses Cristina Silva e José Pinheiro também nasceu de uma "brincadeira". "Comecei há oito anos, com a minha sobrinha e afilhada, com brinquedos que já não queria em casa", conta Cristina, que é colecionadora de bonequinhos em PVC e acabou por encantar-se com as feiras, levando também o marido, que "tem alguns carros e motas". "Compramos lotes para tirarmos algumas coisas, e o resto é para vender", explica a comerciante, entre bonecos da Barbie, Power Rangers, Tartarugas Ninja e raridades como as da série He-Man ou Tintin, entre outros que atraem "mais adultos do que crianças".
A migração da feira da zona da Câmara da Póvoa para a Praça Luís de Camões merece o aplauso dos dois casais. "Aqui é melhor: é um sítio de passagem, e as pessoas vêm e param", repara Abel, enquanto dá conta de que o negócio "está a correr lindamente".
Ainda há "preconceito"
No Porto, o MarketPlace costuma encher o Jardim do Marquês de feirantes, ainda que Eugénia Viana não note mais afluência de público com o Natal. "Muita gente sente vergonha de vir a uma feira de usados. Há um bocadinho de preconceito com os usados no nosso país", lamenta a antiga comerciante de Gaia, onde teve uma loja de roupa íntima. Faz feiras "há mais de 15 anos", e começou por vender as peças de vitrofusão feitas pela filha, então adolescente.
"Fiquei com o bichinho", reconhece Eugénia, que, além de alguma bijutaria feita pela filha, vende artigos como brinquedos e roupa usada e nova, alguma da qual ainda é stock da loja que encerrou pouco antes da pandemia. "É uma maneira de sair de casa; acabo por arejar ao fim de semana. E são os amigos que faço. Socializar também faz falta e é bom. Não é só vender", diz a feirante.
Entre as amizades que Eugénia já ali fez está Alexandra Gigante, que também realça a importância do "convívio" nas feiras. "Não faço isto por dinheiro, mas por gosto. Gosto deste ambiente", confessa, recordando que se juntou a Manuela Rocha, a "sócia" com quem divide a banca, em 2016. "Já nos conhecíamos, e encontrei a Alexandra no Flea Market, onde fui vender pela primeira vez com a minha sobrinha. Perguntou-me se queria dividir o espaço com ela e, a partir daí, nunca mais nos separámos", lembra Manuela, para quem "as feiras estão muito más, porque se perderam vendas".
"Longe de ser o que era"
Com a Feira de Velharias do Castêlo da Maia a estender-se mercado adentro, não houve afluência de público que chegasse para compor o espaço no último domingo antes do Natal. "As feiras baixaram consideravelmente. Vende-se alguma coisa, mas está longe de ser o que era, e a pandemia acabou por estragar o que já estava moribundo", nota Maria José Gonçalves, que coleciona e restaura antiguidades, a sua grande paixão.
Outras vendas
Flea Market
Na Feira da Pulga, que se realiza há cerca de uma década, vende-se e troca-se artigos usados. Tem lugar em vários espaços do Porto, como o parque de estacionamento Silo Auto, ou a Praça da República, e reúne quase duas centenas de feirantes.
Feira dos Golfinhos
Realiza-se no Jardim Basílio Teles, junto à Câmara de Matosinhos, no quarto domingo de cada mês. Começou por ser uma feira de antiguidades e ganhou relevância após o 25 de abril. Hoje, é um espaço para colecionadores de todo o tipo de objetos, novos ou usados.