<p>A população de Meridãos, Cinfães, está, desde Agosto, sem pingo de água da rede pública. O furo que abastece a localidade, praticamente, secou. Descargas de cisternas resolveriam o problema, mas a Autarquia deixou de encomendar o serviço aos bombeiros. Nem um abaixo-assinado terá resolvido o problema.</p>
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Após diferentes contactos estabelecidos pelo JN com a Câmara de Cinfães, no sentido de obter esclarecimentos à cerca desta situação, o JN apurou que os bombeiros terão sido contactados, na passada quinta-feira, por alguém da Autarquia para retomarem o serviço de abastecimento.
A seca em Meridãos está a causar imensos problemas neste lugar, com cerca de 100 casas e 130 habitantes em permanência, da freguesia de Tendais, localizado junto à EN321, a dez quilómetros da vila de Cinfães a caminho do concelho de Castro d" Aire.
Os moradores, na sua maioria idosos, deixaram de ter água a correr nas torneiras. Mas há quem ali tenha casas herdadas e, embora vivam espalhados pelo país, no Verão regressam para passar uns dias na terra natal. Este ano, tiveram de ir embora mais cedo porque não podiam viver sem água nas torneiras de casa.
Higiene pessoal e alimentação, são tarefas que agora são feitas com água que corre nas fontes da localidade. É ao balde que a água é carregada até casa. Maria Júlia, 75 anos, a maioria deles passados a vender pão, confessa não ter força para tal. "Passo um cabo de trabalhos. As pernas já não ajudam", desabafa.
Ao lado, acabado de chegar ao fontenário, Manuel Silva, 54, aguarda que o balde da padeira fique cheio para depois lavar as mãos e braços em plena ruela. O vizinho, José Domingos Ferreira, de enxada ao ombro, admite que o problema, "não é de fácil resolução". "Mas podiam vir cá com as cisternas encher os depósitos enquanto resolvessem de vez", advoga. Aliás, segundo dizem era assim que a Câmara actuava no passado. "Este ano, mal a seca deu sinal, nos primeiros dias de Agosto, a cisterna veio cá duas ou três vezes. Depois deixou de aparecer", denuncia Andreia Rute, 31 anos, mãe de um bebé e mulher de um operário da construção civil.
No fundo do lugar para onde corre a pouca água que ainda circula na rede, junto à EN 321, localiza-se a escola EB1, com cerca de 40 crianças e três professores, um café e um talho. Os estabelecimentos mantêm as portas abertas. Sem água na torneira. A pouca que ainda brota da nascente, dá apenas para - conta Maria Aida Santos, dona do café - se manter as máquinas do café e da loiça ligadas. "Não dá para mais", desabafa. Nas paredes do estabelecimento há apelos em papéis à poupança de água nas paredes. As casas-de-banho estão fechadas.
Cristovão Rocha Silva nasceu em Meridãos, mas cedo partiu para Santa Iria da Azóia, Loures, na Grande Lisboa, onde aprendeu a profissão de alfaiate.
Agora, na reforma , vem regularmente à terra cuidar da sua propriedade. Agora, com a falta de água, até a roupa tem de levar para lavar em Lisboa. "Era para estar mais uns dias por cá, mas vou-me embora", diz, com ar zangado, sentado numa mesa do café.
O presidente da Câmara de Cinfães, Pereira Pinto, garante que a Autarquia tem feito o abastecimento de água à população de Meridãos. " Com certeza não será em quantidade suficiente. Acredito que ssim seja. Mas temo-lo feito. Ainda agora [ quinta-feira passada] fui informado que andam lá os bombeiros a abastecer com água", realçou o autarca no segundo contacto que manteve com o JN. Pereira Pinto explica que, no concelho de Cinfães, há apenas dois autotanques preparados para fazer o serviço de transporte de água potável.
"Pode acontecer que, em tempos de incêndio, esses autotanques não estejam disponíveis para abastecimento", disse, chamando ainda a atenção para o facto de muitos agricultores usarem água potável nas regas. "Se isto não mudar a Câmara terá de aumentar o preço da água" avisou. Quanto à falta de água no Verão, Pereira Pinto adiantou que está a trabalhar com o presidente da Junta de Tendais na procura de "novos locais da onde possa ser feita novas captações". "Mas já se sabe que se a água for captada para um lado, vai faltar no outro. É um dos problemas da Serra de Montemuro", concluiu.