A antiga aldeia de Vilarinho da Furna, submersa há meio século para a construção da barragem que lhe herdou o nome, já está com cerca de metade do casario à vista, devido aos efeitos da seca, admitindo-se que nas próximas semanas, continuando a baixar o caudal do rio Homem, seja possível conhecer ainda mais algumas das casas típicas em granito daquela antiga localidade da região do Gerês.
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O guardião de Vilarinho da Furna, António Barroso, revelou ao JN que "há alguns anos não se via tanto o casario". Por isso, nos últimos quatro fins de semana, a curiosidade popular de ver o empedrado de Vilarinho da Furna levou a que tenha sido portajado o acesso para as três praias fluviais, Arco da Mondeira, Portelada e Quinta do Padre Outeiro, pela proprietária dos terrenos fora de água, a Associação de Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna (AFURNA), da qual António Barroso é igualmente dirigente.
António Barroso recorda o caso de uma mulher que se recusava a deixar a aldeia e morreu de desgosto na última consoada que teve, tendo o guardião confidenciado ao JN o seu próprio caso, em que esteve 30 anos a morar em Covide, "sem ter a coragem de passar por aqui, mas há 20 anos pus o coração ao alto e vim tomar conta disto".
O desafio para não deixar Vilarinho da Furna partiu de Manuel de Azevedo Antunes, o presidente de AFURNA, um sociólogo e professor universitário, que foi o único dos habitantes da aldeia com ensino universitário, recordando ter sido submersa em meados de fevereiro de 1971, mas já nos últimos dias de 1970, as 57 famílias da localidade geresiana haviam levado os pertences.
Não sendo caso único no concelho de Terras de Bouro, já que Valdosende, Rio Caldo e Vilar da Veiga também foram sacrificadas, a fim de construir, neste caso, a Barragem da Caniçada, a situação em Vilarinho da Furna foi mais badalada, desde sempre, não só por ter sido afundada toda a aldeia, como pela vida comunitarista que, entre as Serras do Gerês e Amarela, caracterizava aquela povoação.