Os moradores da Granja, em Gaia, voltam a sair à rua, no domingo, para protestar contra a passagem aérea na linha ferroviária. Às 11 horas da manhã vão fazer uma vigília, que apelidam de "velório". Apesar da travessia superior estar quase instalada, continuam a reivindicar a construção de um túnel.
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Discordam da opção da empresa Infraestruturas de Portugal (IP) e reclamam mais apoio por parte da Câmara de Gaia. Consideram ainda ser tempo para fazer marcha atrás na obra. Lembram ter enviado à IP duas propostas de projeto, "com túnel e a ver-se o mar", mas que ficaram sem resposta.
A insatisfação é grande. Também há o receio de represálias, por isso nem todos querem dar a cara. "Meter aqui este mamarracho é estar a destruir o património" ou "isto é a morte da Granja" são alguns dos lamentos ouvidos.
A questão paisagística e arquitetónica, aliada à mobilidade, estão no topo das preocupações. "Os meus pais, com 80 anos, não vão poder voltar a atravessar a linha", desabafa Maria Castro, referindo-se aos lanços de escadas da nova estrutura e antecipando que não será possível garantir a manutenção dos elevadores.
No entendimento geral, a travessia da IP vai criar uma espécie de muro entre a Granja marítima e pedonal, e a zona acima da estação, onde estão os serviços. "Os negócios vão ressentir-se. As pessoas vão deixar de cruzar a linha a pé como têm feito. Irão fazer compras noutros locais", comentam, anotando que a ida à igreja também poderá tornar-se "mais difícil".
Sublinham "não ter havido respeito" pela histórica estação, cujo edifício foi reabilitado e alvo de um grande investimento. "Este é um mamarracho "standard". Foi aqui montado, como podia ter sido noutro sítio qualquer", criticam.
Outro ponto de discórdia tem a ver com a possível instalação de um estaleiro de caráter permanente. Opõem-se a esta hipótese e defendem para o local a "criação de um parque verde, abrangendo a Avenida Sacadura Cabral e que podia chamar-se Parque Sophia de Mello Breyner", em homenagem à escritora, que ali tinha casa de férias.
"Esta é uma zona de casas centenárias e o impacto é péssimo. O protocolo [prometido pela Câmara e a celebrar até dia 31] é uma aldrabice", diz Fátima Travanca. "Porque é que não houve consulta pública antes da IP avançar? A vigília é pela memória da Granja, mas também pelo futuro", adianta Daniel Ramos, outro dos moradores.