Era "um pio de catatuas". O ruído de quem criticava o tarifário do metro do Porto a dias da inauguração foi caracterizado por Oliveira Marques, à data presidente da Comissão Executiva da empresa, em entrevista ao JN, como "um pio de catatuas, que tentam desviar a atenção da concretização de um grande projeto".
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A primeira linha do metro do Porto, entre Matosinhos e a Trindade, abriu ao público no dia 7 de dezembro de 2002. Nesse dia, o JN publicou uma entrevista com Oliveira Marques. Perante as vozes dissonantes quanto aos preços das viagens, lamentou: "Quando a empresa teve dificuldades muito sérias, em vez de sermos ajudados fomos sobrevoados por abutres". "Agora, que o projeto está em marcha, está a criar-se um drama em torno do tarifário", constatava.
Também Valentim Loureiro, então presidente do Conselho de Administração da empresa e da Câmara de Gondomar, disse que os valores eram o resultado "do trabalho de "técnicos altamente especializados"". A haver alterações, avançariam em 2004, perante os resultados financeiros.
"O preço é aquele que resulta de uma empresa que, não obstante os apoios financeiros do Estado, tem de ser gerida com eficácia e com rigor", acrescentou na inauguração. Os restantes autarcas não pouparam críticas. Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara do Porto e ex-administrador da Metro, não tinha dúvidas: "Os preços terão de ser revistos". E Manuel Seabra, presidente da Câmara de Matosinhos, disse: "Defendo um tarifário minimamente atraente".
Durante aquele mês, viajou-se de borla no metro, mas eram precisos bilhetes, distribuídos nas lojas das estações. Esperavam-se 56 mil passageiros por dia, em 2003, entre o Senhor de Matosinhos e a Trindade. Apesar de todas as polémicas, estava dado início a um serviço que revolucionou a mobilidade na Área Metropolitana do Porto. Hoje, são seis linhas, sete concelhos servidos e mais de 65 milhões de validações por ano.
Na inauguração do sistema, o primeiro-ministro Durão Barroso voltaria ao tema dos tarifários, para garantir que os apoios do Governo (a título de indemnizações compensatórias) deveriam ser iguais para os metros de Lisboa e do Porto. No dia de cortar a fita, o JN não deixou esquecer que a Ponte do Infante continuava sem acessos. A inauguração da travessia construída para substituir o tabuleiro superior da Ponte Luís I, destinado aos carris do novo meio de transporte, chegou a estar prevista também para 8 de dezembro de 2022, mas o prazo derrapou.