Empresários que estão a perder clientela devido às obras de ampliação da rede vão receber indemnizações. Negócios da Praça da Liberdade com quebras significativas.
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A Metro do Porto encomendou a uma sociedade de técnicos de contas o levantamento dos negócios que estão a ter prejuízos por causa das obras de ampliação da rede. O objetivo é, nos casos em que a legislação o permita, indemnizar quem está a perder clientela devido à proximidade dos estaleiros, sobretudo estabelecimentos de comércio e restauração. Na Praça da Liberdade, por exemplo, a construção da linha Rosa - que ligará a Boavista a S. Bento - vai implicar a relocalização provisória da David Rosas e da Farmácia Vitália.
O estudo está a ser feito desde o início do ano, mas ainda não há data para o ressarcimento. Num esclarecimento enviado ao JN, a Metro do Porto lembra que as indemnizações "serão inteiramente pagas com dinheiros públicos" e que a referida análise terá de ser "rigorosa, independente e transparente".
Seja pelo barulho, seja pelo pó ou porque há menos pessoas a passar por ali, os empresários de restauração da Praça da Liberdade que estão mais próximos do estaleiro dizem estar a perder clientes de dia para dia. E receiam que o cenário piore quando for cortado o acesso pedonal à Rua dos Clérigos junto à relojoaria David Rosas, loja que vai mudar de sítio, provavelmente para a Rua de Ramalho Ortigão.
Do outro lado da praça, o avanço das máquinas vai isolar por completo a Farmácia Vitália, que terá de passar para uma loja provisória a instalar na Avenida D. Afonso Henriques. Para este caso, a Metro do Porto prevê a transferência de instalações na primavera/verão e por um período de oito meses.
duas alternativas
Ainda segundo a empresa, o fecho do acesso aos Clérigos - aquele que mais preocupa os empresários da restauração - não deverá ir além de dois meses. Uma das alternativas será ir pela Rua do Almada, mas também aqui acabará por ser necessário cortar o acesso, a dada altura, por algumas semanas. A outra hipótese será fazer o percurso entre a Praça Almeida Garrett e os Loios, passando pelo Pátio das Cardosas.
Na mente de patrões e empregados ainda estão bem presentes os efeitos da pandemia. Agora, o desconforto que as obras causam aos clientes dos restaurantes, sobretudo nas esplanadas, e as placas de segurança que tapam a visibilidade são mais uma dor de cabeça.
"Parece que estamos num mundo à parte", refere ao JN Isabel Pereira, funcionária do restaurante Avenida, com o olhar virado para a vedação do estaleiro que, no seu entender, "intimida" quem passa. "Mas não é só o intimidar. É o pó, é o barulho, tudo incomoda", diz, acrescentando que o impacto tem sido "muito negativo".
Joana Barros, gerente da confeitaria Ateneia, lembra que fez um grande investimento "para dinamizar o negócio e aumentar as vendas". Mas os prejuízos estão aí: comparando com janeiro de 2019, teve uma quebra na faturação de 40%, valor que deverá chegar aos 60% no final deste mês. "O que nos assusta mais é que vão fechar o acesso à Rua dos Clérigos", refere ainda, com receio de que o corte se prolongue pelo verão.
Menos funcionários
Augusto Andrade, empregado do Petisco da Liberdade, recorda como a pandemia e o lay-off afetaram o restaurante: "Já chegámos a ser 12 empregados e agora somos só três". Com perdas na ordem dos 90%, o restaurante vive quase só da esplanada mas, agora, "as pessoas já quase não passam"ali.
Marcos Coelho, responsável pela padaria Celeste, acrescenta outro motivo para a desertificação: "Devido às obras, os transportes públicos não param à nossa porta e quem vem de S. Bento é obrigado a dar uma volta grande". Neste caso, as quebras rondam os 70%.