Alguns cidadãos de Coimbra receiam que a obra do metrobus, já no terreno, leve ao corte de centenas de árvores no centro da cidade, considerando que o projeto pode mesmo "desqualificar o espaço público".
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O grupo ClimAção Centro afirma ser a favor do metrobus, mas defende uma alteração do traçado, de forma a poupar estes exemplares. A Metro Mondego assegura que o projeto tem sido feito no sentido de preservar o maior número possível de espécies vegetais.
Segundo um anúncio da Metro Mondego em março de 2022, seriam cortadas 663 árvores nos troços dentro da cidade. No entanto, a contabilidade do grupo está mais abaixo. "No levantamento que fizemos com base no projeto, contamos 389 árvores, o que nos faz pensar onde serão as outras quase 300 que a Metro Mondego contabiliza", anuncia Paulo Antunes, arquiteto e membro do ClimAção Centro, temendo que, nesse lote estejam os plátanos da Avenida Sá da Bandeira (que liga a Praça da República à Baixa da cidade) e as árvores da Rua Lourenço Almeida Azevedo, junto ao Jardim da Sereia. "Este número não está no Estudo de Impacto Ambiental e em nenhum documento do metrobus. E é estranho como num projeto com mais de 20 anos nada disto tenha sido discutido. A cidade não conhece isto", lamenta Paulo Antunes.
Falta de diálogo
O grupo assegura que sempre defendeu o metro em Coimbra, mas critica a forma como a obra está a ser feita e pensada. "Não há um projeto de qualificação da cidade, estão a ser abatidas árvores, está a ser arrasada a estrutura ecológica de Coimbra", aponta Paulo Antunes.
A 12 de setembro foram abatidos cinco plátanos junto ao Parque da Cidade, sendo que, nas semanas anteriores, o ClimAção propôs uma alteração do traçado que, alega, evitaria o corte. "Disseram que iam analisar e depois mostraram uma versão truncada do nosso traçado. Não é sério e mostrou que não é possível dialogar com a Metro Mondego", acusa Adelino Gonçalves, também arquiteto e membro do grupo.
Afastamento dos plátanos
Segundo os elementos do grupo, se o corte dos plátanos junto ao parque era inevitável, temem que o mesmo aconteça na Avenida Sá da Bandeira. "Disseram que o nosso traçado não era viável porque não era garantido o afastamento da base dos plátanos. Sendo assim, também não o vão garantir na Sá da Bandeira", aponta Adelino Gonçalves.
Miguel Dias, professor, lamenta que a Metro Mondego esteja a fazer o que entende por "coisificação das árvores", sem as considerar no planeamento da cidade.
Contactada pelo JN, fonte do gabinete de comunicação da Metro Mondego garantiu que, no centro da cidade, "só serão abatidas as que se situem no canal do metrobus ou nas respetivas estações, para garantia das características do sistema e da segurança da operação, estando em curso uma atualização do projeto de execução no sentido de preservar o maior número possível de espécies vegetais".
Reforça ainda que serão plantadas duas mil árvores na cidade, em localização a definir, como compensação aos cortes inevitáveis. "Admitem-se ajustamentos ao projeto, que não impliquem atrasos na entrada em operação do sistema nem custos adicionais relevantes", completa.
Pormenores
Troço consignado
Um dos troços do centro da cidade, entre o Largo da Portagem e a Estação de Coimbra B, foi consignado a 22 de setembro, colocando em execução toda a obra do metro. Trata-se de um investimento de perto de 34 milhões de euros, com a adaptação do atual canal ferroviário desativado para acomodar o novo perfil do metrobus, bem como a melhoria das acessibilidades, a remodelação e adequação das vias na zona da Estação de Coimbra B, que será dedicada ao novo serviço de transporte de passageiros.
Abrigos e mobiliário
Está também consignada a empreitada de fornecimento dos abrigos e mobiliário urbano para as estações do metrobus.