Milhares de pessoas sobem a avenida Almirante Reis em direção à Alameda D. Afonso Henriques por melhores salários e valorização das carreiras. Em mês de legislativas, a CGTP quer mostrar ao Governo, no tradicional desfile do Dia do Trabalhador, linhas vermelhas.
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"Mais salários, melhores pensões" é o lema que marca o passo do desfile deste ano. "É justo, urgente e necessário, o aumento do salário" ou "35 horas para todos sem demora" são "slogans" antigos gritados esta quinta-feira.
António Marçal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Judiciais, alerta que até abril de 2026, 40% dos funcionários dos DIAP vão sair para a reforma. Na Comarca Lisboa Oeste, maior do país, a bolsa extraordinária que paga um subsídio de deslocação superior ao vencimento base, é que mantém os serviços.
"Uma medida que devia ser extraordinária é usada como gestão corrente", diz António Marçal ao JN. É crucial, alerta, que a revisão do estatuto suspensa por causa das legislativas antecipadas não fique na gaveta.
"Não podemos deixar-nos iludir pela espuma de alguns processos mediáticos quando o cidadão comum tem dificuldade em aceder à Justiça", defende, garantindo que os processos de violência doméstica, com tramitação urgente, demoram mais de um ano por falta de funcionários.
Marco Aniceto, do Sindicato de Enfermeiros Portugueses (SEP), sublinha ao JN que só no mês de agosto, o hospital de Vila Franca de Xira pagou sete mil horas extraordinárias aos enfermeiros. Só nesta unidade, refere, "faltam cerca de 150 enfermeiros". As Parcerias Público Privadas, considera, não são solução. Só a valorização da carreira conseguirá atrair e reter mais profissionais no Serviço Nacional de Saúde, aponta Marco Aniceto.
Ganhar autonomia
Maria João Falcão, de 24 anos, é a única do seu grupo de amigos que está nos quadros de uma empresa. "Tenho amigos com contratos de dois ou três meses. Os jovens não sabem onde estarão, nem em que condições, daqui a seis meses. Assim é difícil pensar no futuro. É impossível planear sair de casa dos pais", afirma ao JN.
Pouco atrás no desfile, Alfredo Martinho do sindicato de Hotelaria do Sul sublinhava que o feriado também é dia de luta, de greve no setor. No seu caso, os trabalhadores dos bares dos comboios de longo curso enfrentam cortes nos salários que chegam aos 200 euros. A CP renegociou o contrato coletivo de trabalho com um concessionário que mudou há poucos meses. "A nova empresa não quer respeitar o acordo", denuncia Alfredo Martinho, explicando que em causa está o pagamento de subsídios por a nova concessionária pretender equiparar estes trabalhadores aos das cantinas.
Luís Esteves, do Sindicato de Trabalhadores em Funções Públicas e sociais, é Técnico Superior da Casa Pia há 31 anos. Desde 2013, aponta, os trabalhadores não docentes têm uma prioridade: a recuperação das carreiras especiais. O atual ministro da Educação, Fernando Alexandre, afastou essa possibilidade, mas na Saúde os técnicos auxiliares conseguiram essa mudança, aponta. Nas escolas, além do défice de trabalhadores, há assistentes operacionais a fazer Funções de profissionais de saúde, como alimentação por sonda, algaliações ou injeções. Sem formação adequada "é um risco", frisa, defendendo técnicos de saúde para as escolas.
Na Alameda, outras centenas aguardam pelos que sobem a avenida.