A freguesia de Lavos, Figueira da Foz, recuou seis décadas no tempo, num desfile etnográfico a recordar actividades tradicionais da zona, algumas já desaparecidas. O cortejo atraiu milhares de pessoas às ruas, movidas pela curiosidade de reviver esses tempos.
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Agricultores, pescadores, peixeiras, ferreiros, costureiras, amoladores de tesouras ou leiteiros foram só algumas das profissões representadas pelas centenas de participantes num desfile que se prolongou por toda a tarde em Lavos. No total, percorreram a vila 16 carros alegóricos e mais de duas centenas de figurantes, de várias localidades da freguesia e de outras localidades do concelho. “Isto é espectacular, ultrapassa tudo o que podíamos imaginar”. A frase de espanto é de um participante no desfile, vestido de cigano. Mas não é um participante qualquer. Trata-se do presidente da Junta de Freguesia de Lavos, José Elísio, que também não se coibiu de fazer parte da iniciativa. “Claro que sim, o presidente também tem de dar o exemplo”, justifica a presença.
Um pouco por toda a vila, juntavam-se os carros alegóricos, cada um com o seu simbolismo. Desde um carro-escola, a indicar no quadro negro a data de 15 de Agosto de 1952, a uma tenda cigana onde se lia a sina, ou mesmo uma taberna típica da Costa de Lavos, com pescadores e areia à volta.
“Temos aqui pescadores a jogar às cartas, uma salgadeira, e o chão em areia, que não podia faltar”, explica Ana Bela Silveirinha, uma das integrantes do carro. Recorda o tempo em que este tipo de estabelecimentos existia na Costa de Lavos, localidade onde nasceu e ainda actualmente vive. “Não posso viver sem o mar perto de mim”, desabafa.
Os restantes elementos do carro alegórico são amigos e familiares de Ana Bela, entre crianças e adultos. Para a participante é muito importante conservar a tradição de Lavos e este tipo de iniciativas, que sempre acompanha. “Já desde miúda que participo nestas coisas. Sempre que há estou lá”, afirma, entre sorrisos.
Isabel Ferreira trabalha num Centro de Dia e ontem decidiu juntar-se aos vários participantes do desfile etnográfico. Representa uma vendedora de sardinhas e explica como se fazia na década de 50 do século XX: “As sardinhas eram pescadas nos viveiros, eram postas no chão, as mulheres compravam e iam pelas portas das casas das pessoas vender”.
Isabel ainda se recorda de ver as vendedoras de sardinhas a bater porta a porta, e acrescenta que o seu pai, já falecido, comprava muitas vezes. “Era nova mas lembro-me bem”, conta.
Membro da comissão organizadora da iniciativa, Isabel Ferreira entende ser importante a existência deste desfile. “É uma mais-valia a nível cultural”, defende. José Elísio também exulta com o evento, mas entende que não deverá voltar a acontecer. "Gostamos de inovar, não de repetir. Para o próximo ano já temos outras ideias em mente”, revela o autarca.
O desfile contou com a presença de milhares de espectadores, entre eles o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde das Neves, que aproveitou a tarde solarenga de domingo para se deslocar a Lavos.