Um sismo com magnitude de 4,7 na escala de Richter foi registado, ontem à hora de almoço, com epicentro ao largo da Fonte da Telha, em Almada, e provocou um enorme susto na Área Metropolitana de Lisboa, levando a que milhares saíssem para a rua em poucos segundos.
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Houve por toda a Grande Lisboa e região de Setúbal a evacuação preventiva de escolas, de centros de saúde, de empresas, de centros comerciais e de restaurantes por pessoas que tinham fresco na memória o episódio do sismo de 26 de agosto passado, ao largo de Sines, com intensidade semelhante (5,3).
O forte abalo não provocou danos materiais ou pessoais, como informou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e foi sendo transmitido por vários corpos de bombeiros ao JN, mas o susto levou a que, por exemplo, no Hospital de Santa Marta, no centro de Lisboa, muitos profissionais e utentes saíssem dos gabinetes para a rua. Aqui, junto à Avenida da Liberdade, viam-se centenas de pessoas a sair dos prédios, empresas e restaurantes que compõem esta principal artéria da capital. Numa visita de Estado ao Brasil, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, realçou que, “felizmente, as notícias são boas”, referindo-se à ausência de danos.
Sem risco de Tsunami
O sismo ocorreu às 13.24 horas e, apesar do abalo ter acontecido no mar, perto da costa, não houve risco de tsunami, explicou José Ricardo Martins, presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica. “Houve uma evacuação preventiva em duas escolas do 1.º Ciclo e as crianças permaneceram no recreio para prevenção de possíveis réplicas”, indicou o autarca. Nesta freguesia, houve relatos de fissuras em varandas de prédios, mas “nada de alarmante”.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informou que o sismo foi sentido com grande intensidade em Almada e Sintra, e com intensidade mais baixa noutros concelhos, desde Coimbra ao Algarve. No Seixal, de acordo com a câmara, a maioria da população tomou medidas preventivas e houve a evacuação de escolas e centros de saúde “por iniciativa dos respetivos delegados de segurança”. Na Moita, há notícia de evacuações no centro de saúde local e numa superfície comercial. Em Lisboa, várias escolas decidiram retirar os alunos para o exterior. O mesmo replicou-se por todos os municípios onde se sentiu o abalo pelo receio de réplicas fortes, que não se vieram a sentir.
Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, sublinhou o que viu na Baixa lisboeta, com centenas nas ruas, como bom um exemplo do que deve fazer-se. “Temos 86 pontos de encontro para onde as pessoas se devem dirigir em caso de sismo. Quando este estabiliza, as pessoas devem sair para um espaço amplo e foi o que vimos muitos lisboetas a fazer hoje na Baixa”. À Proteção Civil de Lisboa, não chegaram relatos de danos nem pedidos de ajuda, mas foram contactados por “muitas pessoas a pedir informação”.
“Sem alarme, mas devemos estar preparados”
O sismo que abalou a Grande Lisboa, o segundo nos últimos seis meses, levantou questões sobre a recorrência mais frequente destes episódios, se devemos estar preocupados com a atividade sísmica na região e o que urge fazer para torná-la mais resistente.
Ao JN, o geólogo João Duarte explicou que os sismos não seguem um padrão regular, mas que “devemos estar preparados” e conscientes da sismicidade da região. “Sem alarme, este sismo deve-nos relembrar que vivemos numa zona sísmica. A principal razão pela qual devemos estar alarmados é o facto de já ter havido, no passado, sismos grandes de magnitude seis, sete no Vale do Tejo”, sublinhou. O também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa considera que é “natural que ocorram” abalos, “nos próximos dias”, de intensidade mais baixa e, portanto, sem previsão de alarme.
João Duarte crê que tem havido melhorias na prevenção, como se viu ontem “com escolas e unidades de saúde a serem evacuadas”. No entanto, alerta que é necessário reforçar o edificado mais antigo e em zonas vulneráveis para mitigar danos no futuro. “É necessário reforçar a construção. O PRR podia ter sido uma ótima oportunidade. E, erradamente, não se estão a aproveitar as obras de reconstrução urbana em Lisboa para fazer esse reforço antissísmico”.
O que fazer
Dentro de casa
Em caso de sismo, deve evitar escadas e elevadores. Proteger-se debaixo do vão de uma porta interior e manter-se afastado de janelas e de armários.
Na rua
Afastar-se de árvores, postes elétricos e edifícios. Ter cuidado com cabos de alta tensão e objetos e dirigir-se para áreas abertas.
Depois do sismo
Verificar o estado de familiares e mais vulneráveis. Não acender fósforos nem ligar interruptores.