O MIMO "é arte, com amor" e a última noite do Festival de Amarante, no domingo, provou isso mesmo com as atuações do brasileiro Rubel e da cabo-verdiana Mayra Andrade.
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O festival agradou à plateia e aos músicos. Resultado: ninguém queria ir embora; as luzes só se apagaram após o segundo encore de Mayra, "Cesária Évora" dos novos tempos.
A organização do MIMO anuncia "com muita satisfação que fomos visitados por mais de 80 mil pessoas durante três dias. Um crescimento sustentado que muito orgulha a organização e a autarquia que, desde 2016, realiza o MIMO Festival em Amarante".
Para Lu Araújo, fundadora e diretora do MIMO Festival "este sucesso vem provar que estávamos certos ao apostar em Amarante e estamos muito felizes por ver o interior do país no mapa dos festivais de Verão. Em apenas quatro anos conquistámos o público e os artistas não esquecem a sua passagem por Amarante".
O último dia do MIMO começou com a Orquestra do Norte, que tem sede em Amarante, a atuar na Igreja de S. Gonçalo. O público, aquele que conseguiu entrar para o templo religioso, acumodou-se como pôde. Até o Altar serviu de plateia. Pouco depois, nova lotação esgotada agora nos claustros de S. Gonçalo para as atuações, primeiro de Fortuna e depois dos Violons Barbares. Fortuna, a cantora e compositora brasileira, levou ao MIMO o seu novo projeto "Mares da Memória" composto por canções inspiradas nas obras do cancioneiro ladino onde, além do dialeto judaico-hispânico, reúne aspetos da fusão cultural entre povos peninsulares e mouriscos.
Os Violons Barbares, grupo com musicos da Mongólia, Bulgária e França impressionou com a combinação de ritmos tradicionais dos seus países. No palco principal, no Palco do Ribeirinho, Capícua e Camané não faltaram à reinvenção da música portuguesa que Stereossauro tem em curso. A noite caiu aos pés de Rubel e Mayara Andrade.
O cantor e compositor carioca revisitou os seus dois discos "Casas" (nomeado em 2018 para o Grammy Latino na categoria Melhor Disco de Rock) e "Pearl", apresentando um repertório de êxitos como "O velho e o mar" e "Quando Bate Aquela Saudade" e os novos temas com "Partilhar", "Mantra" e "Colégio". Rubel que se apresentou descalço em palco, com umas meias vermelhas e um capuz da mesma cor, a fazer lembrar um jovem pescador da Nazaré mas de cores garrídas, encantou com as suas melodias e aproveitou a presença da imensa plateia para denunciar "o momento complicado da política brasileira. "Peço ajuda ao meu santo, S. Jorge, que me ajude", disse. A plateia sublinhou com o clássico "fora Bolsonaro".
Mayara Andrade pôs os milhares de festivaleiros, que resistiram até à ultima nota do MIMO, a dançar. O concerto agradou à plateia, aos músicos e à digna sucessora de Cesária Évora. Resultado: ninguém queria ir embora; as luzes só se apagaram no final do segundo encore com Mayra Andrade sozinha em palco. Chegava assim ao fim o seu regresso ao palco do Mimo onde em 2017 tinha estado a convite de Hamilton de Holanda & o Baile do Almeidinha.
Salif Keita, Seun Kuti & Egypt 80, 47Soul, Criolo, Samuel Úria, Miramar, DJ Ride, Hamilton de Holanda & Pablo Lapidusas, Bixiga 70, Délia Fischer, Ana de Oliveira & Sérgio Ferraz, Lívia Nestrovski & Fred Ferreira, e DJ Montano foram os outros nomes que animaram o MIMO 2019. Mas também houve cinema, workshops, fóruns de ideias e uma chuva de poesia. A exposição "Abstração - Arte Partilhada Millennium bcp", inaugurada no Museu Amadeo de Souza-Cardoso na passada quinta-feira, continua aberta ao público até 27 de outubro.
Antes do regresso a Amarante em 2020, o MIMO Festival realiza-se no Rio de Janeiro e em São Paulo no próximo mês de outubro.