Vila Seca e Milhazes temem por segurança das "piscinas" a céu aberto. Autoridades preocupadas com os danos ambientais.
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Um canto da sereia ecoa nas gigantescas crateras da exploração de caulinos de Vila Seca e de Milhazes, em Barcelos, semelhantes a piscinas a céu aberto. Bonitas e perigosas. A empresa já começou a vedar o acesso, mas há mais receios: a Quercus teme pela poluição do ar e das águas subterrâneas e as autoridades de saúde recomendam cautelas com populações de risco. Contactada pelo JN, a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) não se manifestou.
A exploração arrancou em 2011, após acordo entre as freguesias, a concessionária (Mibal) e a DGEG. A empresa comprometeu-se com uma série de medidas. Passados mais de sete anos, há coisas por resolver. A vedação é a grande preocupação da presidente da Junta de Vila Seca, Liliana Faria. O perigo espreita e a cor tropical das águas nas crateras é um chamariz. "A empresa nunca nos disse que não vedava, mas sempre foi alegando dificuldades económicas para não o fazer a curto prazo", diz Liliana Faria.
Taludes não resolvem
Nos últimos tempos, por "insistência" da autarca, foram erguidos taludes de terra mais altos. São dissuasores, mas não passam disso. "Já não há contacto tão direto, mas as crianças, os jovens, e também os adultos avançam para ver e é claro que uma vedação mais forte seria mais inibidora".
O presidente da Mibal, José Francisco Lima, explicou ao JN que, já este mês, irá "colocar mais vedações em rede" e que a empresa assegura "vigilância humana 24 horas por dia", medida que considera ser "a mais eficaz" na prevenção de acidentes.
Já a Quercus receia os alegados efeitos nos lençóis freáticos. "Uma das primeiras consequências visíveis é o escoamento das águas dos poços para as crateras", diz o presidente da associação. João Branco fala também na possibilidade de as populações estarem a respirar "poeiras sólidas".
Os camiões da Mibal continuam, contrariando o acordado, a passar junto a uma escola e pela estrada principal, que atravessa a freguesia, já que não foi criada pela empresa uma via alternativa. A delegada de saúde regional do Norte, Maria Neto, embora verifique não ter dados concretos sobre este tipo de poeiras, recomenda cuidados acrescidos junto das populações mais vulneráveis: idosos, crianças ou doentes crónicos.
Neste momento, a exploração estende-se a quase sete hectares, dos quais, garante a empresa, um está "parcialmente recuperado" e 1,3 hectares são "da responsabilidade do dono do terreno".
SAIBA MAIS
O que é o caulino?
É um minério (neste caso em pó) com características especiais, utilizado para o fabrico de papel, cerâmica e tintas.
O que pode causar?
De acordo com Carlos Alberto Videira da Silva, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, a inalação da poeira da extração do caulino provoca sérios problemas respiratórios, fazendo desencadear silicose ou fibrose pulmonar e ainda granuloma estomacal.