Em causa o facto de os lixiviados serem transportados por camião cisterna e não encaminhados para uma ETAR. Câmara de Valongo critica a postura arrogante do ministro e acusa-o de mentir aos deputados.
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O ministro do Ambiente e da Ação Climática atribuiu, esta quarta-feira, a culpa dos maus cheiros no aterro da Recivalongo, em Sobrado, à Câmara Municipal, entidade que tem vindo a pedir o encerramento do equipamento juntamente com a população. O presidente da Autarquia, do PS, diz que o governante "nunca teve a coragem" de visitar o aterro e argumenta que a empresa "que tanto defende" já foi condenada por atentado ambiental.
"O mau cheiro do aterro vem do facto de a Câmara de Valongo ter barrado a possibilidade de os lixiviados serem tratados na ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais]. Isso é que é a verdade", afirmou João Matos Fernandes, durante uma audição na comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território.
"Intercedi junto da autarquia de Valongo para se fazer a ligação dos lixiviados à ETAR. Sabe porque é que há mau cheiro? Porque essa ligação não está feita", insistiu em resposta a um deputado que confrontou o governante com a existência de "12 incumprimentos consecutivos do limite de descargas de lixiviados" da Recivalongo "que culminaram no encerramento da ligação à rede" daquele aterro.
Matos Fernandes afirmou que os lixiviados são transportados, ficando no aterro "algumas horas até que o camião cisterna os tire de lá". "Se fossem tratados na ETAR o cheiro era muitíssimo menor", argumentou.
Confrontada com as acusações, a Câmara de Valongo critica a postura arrogante do ministro: "Lamentamos a postura arrogante do senhor ministro do Ambiente, que no caso do aterro de Sobrado optou pela defesa dos interesses da empresa, contra as populações e o direito a um ambiente decente e com qualidade, tendo preferido atacar o município, quando a empresa que tanto defende pelo menos 12 vezes incumpriu nas descargas de efluente, tendo sido condenada por três vezes por atos de atentado ambiental", refere o município liderado por José Manuel Ribeiro, que acusou ainda Matos Fernandes de não ter dito "toda a verdade aos deputados". A Autarquia sustenta que a ligação em causa "acarreta elevados riscos de violação da legislação ambiental e de degradação do sistema público de saneamento".
José Manuel Ribeiro aponta ainda que o ministro "necessita de ser mais humilde, pois nunca teve a coragem de ir ao local sentir os cheiros nauseabundos que as pessoas sofrem". Se o tivesse feito, diz o autarca, "saberia que começaram em 2015, muito antes da selagem do coletor de saneamento, ocorrida em outubro de 2019". Pede ainda ao governante coragem para "uma investigação transparente" ao processo de renovação das licenças ambientais.