A noite da véspera de Páscoa é anualmente vivida de uma forma bem original pela freguesia de Vale de Telhas que se prepara para cumprir a tradição de "serrar a belha", de origem pagã, que se realiza entre o Carnaval e a Páscoa.
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"Optamos por fazer esta noite, porque os filhos da terra regressam durante esta altura e em vez dos 160 habitantes que aqui residem, durante o ano, o número de pessoas duplica no fim de semana da Pascoa", explica Sónia Mota, membro da junta de freguesia local que promove a iniciativa, em parceria com a associação cultural e recreativa da aldeia, com o apoio da Câmara de Mirandela.
"Trata-se uma encenação que retrata o arrependimento de uma velha, na hora da morte, que vai pela aldeia distribuindo os seus pertences, mas em vez de se redimir, caminha cada vez mais para o inferno, satirizando todo o povo", conta Aristides Cadavez, da associação.
As duas personagens principais dão vida à velha e ao Pineto (homem rico da aldeia) acompanhadas pelos netos "chorosos", mulheres e homens, também da freguesia. Percorreram as casas com a "Belha" quase no leito da morte, onde o Pineto vai fustigando para que vá fazendo o seu testamento carregado de alusões à vida das pessoas da freguesia e aos acontecimentos mais importantes do ano.
Assim, de uma forma humorística, ela deixa os seus haveres a pessoas ou famílias emblemáticas. "Por exemplo, aos preguiçosos atribui objetos para trabalharem, aos badalhocos deixa restos de sabão, lavatórios de ferro e bacias de esmalte, enquanto às desmazeladas deixa o ferro de brasas para passarem os fatos domingueiros aos maridos para irem à missa", conta Sónia Mota.
Depois do testamento entregue, a "Belha" morre e dá-se início ao funeral, onde a personagem do padre assume o papel principal. O caixão é levado até à fogueira, onde é queimada uma boneca que simboliza a figura da velha. "Esta queima está associada ao esconjuro dos males da população", adianta.
Se até ao ano passado, esta tradição sempre foi muito virada para consumo interno, este ano, "a ideia é alargar a celebração a nível concelhio e até distrital com alguma inovação e maior investimento", conta Sónia Mota.
Além da encenação teatral, protagonizada pelo grupo "Portuga e Por Nada" e por habitantes da aldeia, há animação de rua com os gaiteiros de Urrós, os Marias Malucas, um concerto com o grupo "Galandum Galundaina" e os Xúcalhos, bem como uma ronda das tabernas.
No final será ainda queimada uma "belha" de cinco metros.