Uma trabalhadora da Santa Casa da Misericórdia de Braga (SCMB), de baixa médica por ter sofrido um acidente de trabalho, foi notificada a deixar o apartamento por si arrendado à instituição no final deste mês.
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Odete Silva, de 46 anos, cujo companheiro, de 42 anos, faleceu na noite de 19 de fevereiro de 2025 no Bairro da Misericórdia, em Braga, foi intimada a deixar a casa até ao dia 30 de junho “por não haver lugar à renovação do contrato de arrendamento”. A notificação foi enviada pela Santa Casa da Misericórdia de Braga.
A trabalhadora, de nacionalidade angolana, tem estado em protesto à porta da Segurança Social de Braga. Apresentou queixa da sua situação naquela instituição e garante que não tem para onde ir morar com uma filha de 18 anos. "Isto é uma represália contra mim”, denuncia. Odete Silva é funcionária e arrendatária do apartamento no Bairro da Misericórdia. Trata-se de um acordo verbal que o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga, Bernardo Reis, fez consigo para agilizar a viabilidade de trabalhar no período noturno.
“Já receava esta situação, porque eu não aceitei uma rescisão do contrato de trabalho. A Misericórdia de Braga quer despedir-me, mas, como quero continuar a trabalhar, não aceitando a tal rescisão ‘amigável’, surgiu agora a não renovação do contrato de arrendamento. Vão mandar-me para a rua com a minha filha”, lamenta Odete Silva, que, antes de se mudar para o Bairro da Misericórdia, residia em Vila Verde. Sem transportes públicos à noite, “o senhor provedor então fez com que a Santa Casa da Misericórdia de Braga me arrendasse o apartamento, em Braga, para eu poder trabalhar de madrugada”.
Queixa no Ministério Público e na ACT
A funcionária conta que foi vítima de um acidente de trabalho na noite de 22 de dezembro de 2024. "Estava a levar a alimentação para um utente, quando escorreguei e caí, o que me deixou bastante magoada, não só nas pernas, como também na coluna vertebral. Sucedeu na escadaria interior, pois, durante a noite, estamos proibidos de utilizar qualquer elevador do Lar Nevarte Gulbenkian da Santa Casa da Misericórdia de Braga”, recorda a trabalhadora que participou, ainda, o caso ao Ministério Público, junto do Tribunal do Trabalho de Braga e à Autoridade das Condições de Trabalho. Também está a ultimar uma participação ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Ministério Público de Braga, alegando discriminação racial.
O JN contactou a Santa Casa da Misericórdia de Braga, mas não obteve esclarecimentos até ao momento.