<p>São quilos e quilos de moedas mas sem valor algum. Escudos caídos em desuso que o Banco de Portugal já não troca por euros porque o prazo terminou no último dia do ano de 2002. Onorato Pontes guarda a relíquia.</p>
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Tostões, moedas de "cinco coroas". "São uns milhares de escudos, mas que não valem nada", diz Onorato Pontes, de Braga, sem esconder a mágoa de ver as suas "reservas" acompanhar a queda das praças globais. Pior. Afigura-se ao congelamento de uma conta, pois o dinheiro existe, não há qualquer especulação bolsista que o rotule de título com valor fictício, só que não serve para transaccionar.
São, à vontade, 80 quilos de moedas em cobre. De um escudo. Distribuídas por caixas de charutos que conservam agora uma tonalidade ocre. Mas Onorato também preserva considerável quantia de moedas de prata, de cinco tostões… Todas guardadas num cofre do banco, porque ainda resta esperança ao proprietário que um dia venham a ser transaccionáveis. Tal como as moedas, apreciadas com nostalgia desde a sua saída de circulação (28-02-2002), Onorato foi guardando notas. Do Bocage (100 escudos), da rainha Santa Isabel (50) e do Gago Coutinho (20). Mas, para essas, foi concedido um prazo de troca mais dilatado (31/12/2021) e as que restam no cofre de Onorato Pontes até devem por lá permanecer, em jeito de reserva para memória futura.
Pela pastelaria (Ritz) de Onorato da Silva Pontes passaram as mais proeminentes figuras bracarenses dos séculos 19 e 20. Situada em pleno coração da cidade de Braga, era local de convívio e tertúlia. Foi durante esses anos de florescimento económico que Onorato foi separando, no final de cada dia de trabalho, umas quantas moedas para as pequenas caixas de charutos e, assim, acumuladas em cantos do escritório.
"Estive fora do país e, quando regressei, fui ao Banco de Portugal, para trocar as moedas. Não por necessidade, mas por uma questão de arrumação. Informaram-me que já não era possível e encaminharam-me para Casa da Moeda. Fui a Lisboa e tudo, mas nada resolveram, porque era no Banco de Portugal, mas o prazo tinha terminado", descreve.
Os propósitos de Onorato "despachar" as moedas levou-o a bordar coleccionadores, mas nem essa tentativa foi bem sucedida e, como por ilusionismo, viu algumas moedas desaparecer pela manga de um pretenso comprador.