Região de Aveiro anuncia candidatura à UNESCO. Importante para preservar o barco e atrair turistas.
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A Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) anunciou, na terça-feira, que daqui a um ano vai entregar à UNESCO, a agência da Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, a candidatura do barco moliceiro e respetiva arte de construção naval a património cultural imaterial da humanidade.
O presidente da CIRA, Ribau Esteves, acredita que "podemos vir a ter um reconhecimento formal, que será o primeiro selo da UNESCO para a região, em 2022 ou 2023", um contributo importante para preservar as embarcações típicas da ria de Aveiro e atrair mais turistas à região.
Apesar de haver "intenções há muitos anos, é a primeira vez que se avança com um processo formal" de candidatura, explicou Ribau. O dossier ficará pronto até "no final do ano". Seguem-se "contactos informais com a UNESCO" e, em "meados" do próximo ano, será formalmente entregue a candidatura. Todo o processo custará "cerca de 400 mil euros".
Restam 37
Há décadas, centenas de moliceiros cruzavam as águas da ria para a apanha do moliço, algas com que se adubavam os campos agrícolas. Entraram em declínio até que, há cerca de 25 anos, voltaram a ser construídos para transportar turistas nos canais urbanos de Aveiro.
Atualmente, pelas contas de Ribau Esteves, existem 23 destes barcos a circular nos canais urbanos de Aveiro, a que se somam mais "uns 14" que são usados para passeios em ria aberta e participam em regatas. Não existirão assim mais de 37.
A intenção é que a candidatura ajude a preservar as embarcações e o saber-fazer a nível de construção e pintura dos painéis religiosos ou humorísticos que as distinguem.
O construtor José Rito e o pintor José Oliveira confirmam a urgência de salvaguardar este património. Rito, 65 anos, que trabalha no estaleiro-museu municipal na Torreira, Murtosa, conta que a maioria dos construtores são idosos e lamenta que a "malta jovem" não queira aprender, por ser um trabalho que requer muito esforço físico.
Oliveira, que começou a pintar há 32 anos, é o responsável por quase todos os painéis que existem atualmente e garante que este tipo de pinturas é "inseparável" dos moliceiros.
O selo da UNESCO, acrescenta Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, ajudará a reforçar "a confiança e o posicionamento" da região em termos turísticos, atraindo mais pessoas e gerando riqueza.
Silvério Regalado, autarca de Vagos, município onde foi lançada ontem a candidatura, aproveitou a ocasião para lançar um "desafio": que se trabalhe também para que os barcos da arte xávega sejam património da humanidade. Na praia da Vagueira, lembrou, "já só existem duas companhas" que usam aquelas embarcações de pesca costeira.
Três meses para construir
Os barcos são feitos de madeira de pinho e medem, geralmente, cerca de 15 metros de comprimento. A construção demora, em média, dois a três meses.
Painéis humorísticos
Os barcos têm quatro painéis pintados à mão com temáticas variadas, que podem ir desde temas religiosos e históricos a humorísticos ou brejeiros, passando pela sátira, homenagens, ídolos e retrato de atividades profissionais tradicionais ligadas à ria e à terra.
20 mil euros
É quanto custa um barco moliceiro, de acordo com o mestre José Rito. Já só são usados para passeios nos canais urbanos de Aveiro ou em ria aberta e para as regatas.