Após 30 anos da reintrodução de cervídeos na Serra da Lousã, já serão mais de três mil veados na região. O número de corços deve ser superior. O plano de gestão da serra deixa agora a porta aberta à caça destas espécies.
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Segundo o coordenador científico do Plano de Gestão Cinegético da Zona de Caça Nacional da Serra da Lousã, Carlos Fonseca, até 2030, a orientação é de monitorizar a população de cervídeos na região e, tendo em conta o seu impacto negativo, nomeadamente para a agricultura, procurar medidas de mitigação. Uma das possibilidades é “o início da exploração de caça na Zona de Caça Nacional, que nunca aconteceu”.
“Não é que não haja já muita informação, mas precisamos ter uma base de número de animais, para depois podermos equacionar a exploração cinegética”, garante o investigador.
A zona de Caça Nacional cobre uma área de cerca de 11 mil hectares, que abrange, além da Lousã, os municípios de Penela, Figueiró dos Vinhos, Pedrogão, Castanheira de Pera e Góis. A área, segundo Carlos Fonseca, “tem servido quase como maternidade” para todas populações de veados e corços.
A sua abertura à caça vai, no entanto, depender do “número de animais e da qualidade”, afirma o investigador, apontando que, a acontecer, será “eventualmente em 2026, 2027”. Carlos Fonseca acredita haver "condições para iniciar esse processo”.
Ainda assim, o investigador da Universidade de Aveiro salienta que os processos de caça que estão previstos são “essencialmente seletivos”, dado que o maciço central da Serra da Lousã tem o habitat mais apropriado para o veado e o corço.
“Será sempre considerado o núcleo central e não convém que o exercício da caça seja de tal maneira grande, de modo a baixar ou a interferir nesta função que tem tido”, sustenta.
O investigador da Universidade de Aveiro estima que na região haja mais de três mil veados, que já chegaram à Serra da Estrela. Quanto ao corço, embora não haja contagem, deve ser um número superior, uma vez que têm “uma capacidade reprodutora maior”.
Envolvimento de todas as entidades
Será a Agência para o Desenvolvimento da Serra da Lousã (ADSL) a operacionalizar o plano e integrar os associados, para, segundo Carlos Fonseca, “tentar criar um ecossistema, usando os recursos” do território. “Temos aqui entidades públicas e privadas que devem verter para aqui o seu conhecimento e, de tal forma, também tirar proveito, porque estamos a falar de um recurso altamente valorizado”, acrescenta.
É a pensar na sua valorização que Carlos Fonseca deixa também o repto à agência para, “no imediato, contratar pessoas” para contribuírem para a execução do plano e “aproveitar uma série de infraestruturas que já existem na Serra da Lousã”.
A ADSL, criada há alguns anos, “não tem tido o funcionamento que todos” desejam, reconheceu o seu presidente, Luís Antunes, também autarca da Lousã, dando ainda conta que foram dados, recentemente, passos para promover o seu funcionamento.
Sobre o plano agora apresentado, Luís Antunes considera que vai permitir uma “gestão mais adequada da população” de animais, mas também uma gestão da Serra da Lousã “de forma integrada”, envolvendo “todos os agentes públicos e privados”.
Na cerimónia desta quarta-feira na Lousã, o secretário de Estado das Florestas, Rui Ladeira, considerou que o plano de gestão apresentado é um caminho “muito importante” e garantiu o “compromisso” do Governo na valorização do setor da caça, “central para a económica do país, mas também para a sustentabilidade”.
O secretário de Estado sublinhou ainda os trabalhos para reativar o Centro de Competências de Caça, considerado “central” para, em pareceria com universidades, traçar estratégias.
Segundo Rui Ladeira, o trabalho que está a ser feito vai também no sentido da valorização da carne de caça, e “criar as linhas dedicadas para a caça maior, para que a transformação e a mais-valia do produto” fique em Portugal.