Lixo por todo o lado em Pombal, invasão de propriedade para fazer necessidades e dormir, além do barulho durante a noite, são as queixas principais.
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Os moradores das Meirinhas, em Pombal, estão cansados da falta de civismo de muitos peregrinos que passam pela freguesia a pé, quando vão para Fátima. Além do lixo que deixam pelo caminho, invadem as propriedades para fazer necessidades e fazem barulho à noite, o que impede as pessoas de descansar.
Garrafas de água e de cerveja, embalagens de snacks, e pensos dos curativos dos pés são visíveis nas bermas da estrada e nos logradouros das casas, que são usados pelos peregrinos como casa de banho, nas propriedades que não têm vedação. Também nos campos, junto às habitações, deixam lenços de papel e até pensos higiénicos.
Antes da peregrinação do 13 de maio, a Junta das Meirinhas colocou casas de banho portáteis na freguesia, mas de pouco valeu, pois mal foram utilizadas. "As pessoas não têm educação, nem civismo", lamenta a moradora Joana, inconformada com o lixo que deixam espalhado por todo o lado, quando existem caixotes nas ruas.
Mas as queixas não ficam por aqui. Idalina conta que houve peregrinos que entraram na sua propriedade, murada e com portões, improvisaram uma cama com uns cortinados que tinha num saco e pernoitaram debaixo do telheiro. As conversas e a música durante a noite, junto às casas, são outro motivo de contestação.
"Uma carrinha andava para trás e para a frente a tocar "Põe tua mão na mão do meu Senhor"", relata Joana. "Fui à rua e apontei para o pulso, para perceberem que era tarde, e ouvi o que não queria", assegura. A jovem conta que também foi insultada por ter pedido a peregrinos para caminharem no passeio, em vez de usarem a estrada.
Reforço de albergues
As moradoras referem ainda que é frequente os peregrinos encherem sacos com fruta das árvores e levarem legumes das suas hortas. Em anos anteriores, nem o pão que o padeiro deixava à porta das casas escapava. Durante o dia, as ruas são vigiadas por guardas da GNR a cavalo, mas à noite os problemas agravam-se.
Joana sugere que sejam colocados cartazes antes das casas, a apelar aos peregrinos para caminharem em silêncio de noite e colocarem o lixo nos caixotes, sugestão bem acolhida por João Pimpão, presidente da Junta das Meirinhas. Contudo, o autarca considera fundamental reforçar o número de albergues permanentes, com equipamentos sanitários e espaços para pernoitarem.
"Há tantas instituições. Se cada uma fizesse um albergue, havia mais equipamentos disponíveis", sugere João Pimpão. "O Estado, as autarquias e as associações da sociedade civil têm de dar esse passo." O presidente da Câmara de Pombal, Pedro Pimpão, revelou ao JN estar em "conversações" para criar um albergue permanente, idêntico ao de Colmeias, em Leiria.
Na qualidade de presidente da Associação Caminhos de Fátima, Pedro Pimpão garantiu que todos os municípios estão empenhados em encontrar soluções para proporcionar conforto e bem-estar aos peregrinos, ao longo de todo o percurso. "Além de estarmos recetivos a investimentos privados, também estaremos atentos às oportunidades que possam surgir no âmbito do novo ciclo de financiamento comunitário."
Reação
Santuário apoia apenas no recinto
Contactado pelo JN para saber se vai envolver-se na criação de infraestruturas de apoio aos fiéis, o Santuário disse que "está sempre disponível para contribuir para a melhoria das condições de peregrinação, embora não faça o acompanhamento dos grupos que se deslocam para Fátima", durante o seu percurso. "O papel do Santuário, como meta da peregrinação, é garantir o bom acolhimento dos peregrinos à sua chegada ao Recinto de Oração, que é onde tem jurisdição", esclarece. Elogia ainda "o esforço e o trabalho desenvolvido por várias associações e movimentos, na sua maioria, compostos por voluntários, que prestam auxílio aos peregrinos a pé, seja a nível de cuidados de saúde, seja de alimentação".
Distância
30 quilómetros aproximadamente dista Meirinhas, em Pombal, de Fátima, um percurso que para muitos peregrinos significa a última etapa antes de chegar ao Santuário.