Cerca de cem pessoas protestaram, esta quarta-feira, contra o projeto da Câmara de Lisboa para a construção do Hotel Social na Mouraria, numa manifestação promovida pela Junta de Santa Maria Maior para impedir "mais problemas" neste territrio.
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"Hotel social aqui não", "Hotel social não, renda acessível sim", "Direitos sociais sim, massacrar o bairro não", "Vivemos na Mouraria exigimos dignidade", "Não destruam o meu bairro", "A melhor resposta social é proteger os moradores", "Presidente Moedas respeite a Mouraria" e "Merecemos mais problemas?" foram algumas das mensagens gravadas nos cartazes erguidos pelos fregueses de Santa Maria Maior.
A manifestação ocorreu na Rua das Olarias, no Bairro da Mouraria, junto aos dois imóveis de propriedade municipal - que se encontram degradados - onde a câmara se prepara para construir o Hotel Social, destinado ao alojamento urgente e temporário de pessoas em situação de especial vulnerabilidade,
A proposta da Câmara de Carlos Moedas (PSD) foi aprovada "por unanimidade" em julho de 2024, determinando que o Hotel Social na Mouraria "permitirá uma ocupação máxima de 29 utentes (nove quartos individuais, quatro quartos duplos e quatro quartos triplos) e terá disponível um conjunto de serviços de apoio, como uma cozinha industrial, lavandaria e espaços dedicados a serviços técnicos de apoio".
"Vamos criar aqui um muro à volta da Mouraria"
"Colocar aqui, num único sítio da cidade, um Hotel Social era transportar para aqui dezenas e centenas de problemas de pessoas que vão começar a dormir aqui na rua", afirmou o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), considerando que esta resposta social iria, "por pressão", originar uma situação semelhante à que aconteceu junto à Igreja dos Anjos, em Arroios, com pessoas a dormir em tendas.
Apesar de considerar que "é um problema gravíssimo" o aumento de pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, o autarca de Santa Maria Maior defendeu "uma resposta solidária de toda a cidade", com a implementação de um Hotel Social em cada uma das 24 freguesias lisboetas "e não apenas tudo na Mouraria".
"As zonas complicadas têm de ser descomplicadas e não se pode fazer uma espécie de raciocínio que é fazer uma espécie de gueto ao contrário: para protegermos a cidade de Lisboa de todas as coisas difíceis, vamos criar aqui um muro à volta da Mouraria, onde pomos tudo que é complicado aqui dentro para não irem para outro lado. Isso é que eu não posso aceitar", afirmou Miguel Coelho.
O autarca ressalvou que está disponível para ajudar na solução, mas contra a concentração das respostas em Santa Maria Maior, "porque já tem problemas que cheguem", destacando a falta de segurança, sobretudo ligada ao tráfico e consumo de droga.
Além dos problemas de segurança, o socialista realçou a falta de habitação na freguesia de Santa Maria Maior, indicando que os imóveis onde a câmara pretende implementar o Hotel Social foram sinalizados pela junta para serem reabilitados e colocados em arrendamento acessível, através do programa "Regresso ao Bairro".
"Hotel social não, renda acessível sim", gritaram os fregueses que se juntaram à iniciativa da junta, num apelo ao presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), para que reconsidere a decisão quanto ao destino destes imóveis na Rua das Olarias.
A 100 metros de uma casa de consumo assistido
Esta rua na Mouraria está a 100 metros de uma casa de consumo assistido de drogas, é contígua à Rua do Benformoso e de "outras zonas também bem complicadas", indicou o autarca, referindo que, apesar de tudo, tem "escapado incólume aos problemas que surgem de qualidade e de tranquilidade no espaço público".
Sobre a posição favorável dos vereadores do PS quanto ao Hotel Social na Mouraria, o socialista Miguel Coelho, que termina este ano o último mandato como presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (o terceiro consecutivo), realçou a sua independência enquanto autarca, lembrando a oposição a medidas do anterior executivo do PS quanto à instalação de contentores no Martim Moniz, ao alojamento local e à circulação desenfreada de "tuk-tuk".
Entre os moradores presentes na manifestação, sobretudo idosos, houve também quem manifestasse preocupação com assaltos na zona da Mouraria e quem relatasse situações de risco de despejo das casas onde vive há décadas.