O presidente da Câmara do Porto acusou a TAP de ter em curso uma estratégia para "destruir o aeroporto Francisco Sá Carneiro", com vista a construir em Lisboa "um novo aeroporto e uma nova ponte".
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"A estratégia da TAP é um insulto à cidade do Porto e uma tentativa de destruir o aeroporto para construir um novo aeroporto, uma nova ponte e uma nova Expo [em Lisboa]. Isto é um problema de regime. Temos sido uns carneiros e temo-nos iludido com promessas sucessivas. O TGV vai acabar por ser Lisboa-Madrid. A terceira ponte [sobre o Tejo] é um grande objetivo do regime", afirmou Rui Moreira.
O autarca, que falava durante a reunião camarária pública, prometeu não desistir da "guerra séria" para que a TAP, agora detida em 50% pelo Estado, restabeleça as rotas que anunciou querer suspender a partir do aeroporto do Porto, nomeadamente para Roma, Milão (Itália), Bruxelas (Bélgica) e Barcelona (Espanha).
"Esta é uma guerra séria. Vamos continuar. Não é ainda o momento de inverter a estratégia. A TAP, neste momento, não presta um serviço estratégico ao país. Não é o interesse da TAP que está a ser privilegiado. É o interesse da White [companhia privada] Iremos fazer uma marcação à zona. Vamos continuar neste processo", assegurou.
Se o combate "for perdido", Moreira admite passar "a outra fase", que "dói mais aos privados" porque afeta "a estratégia comercial".
"Há de chegar o tempo em que apelaremos à população da região para não voar na TAP", reconheceu o autarca.
Para já, "ainda não chegou o tempo de nos calarmos e conformarmos", sublinhou Moreira.
"Ouvimos o Governo falar no interesse estratégico da TAP. Eu não consigo imaginar um interesse estratégico sem reflexo nas rotas. E não me conformo com a questão da ponte aérea", afirmou o presidente da Câmara.
A questão da TAP foi levantada na sessão camarária de hoje pelo vereador do PSD Amorim Pereira, que elogiou a postura de Moreira no combate pelas rotas da transportadora no aeroporto do Porto mas defendeu a necessidade de "não perder mais tempo a correr atrás do prejuízo".
"O futuro das ligações aéreas que interessam ao Porto já não vai passar pela TAP. Claro que a o aeroporto do Porto não se insere nos objetivos estratégicos da TAP. Devemos focar-nos nas negociações com outras companhias aéreas e não perder tempo", sustentou o social-democrata.
Quando ao socialista Manuel Pizarro, lembrou que o atual problema da TAP começou "com a privatização da ANA - Aeroportos de Portugal sem acordos específicos para o aeroporto Francisco Sá Carneiro".
"A TAP está a desrespeitar o plano estratégico. Não podemos nem devemos calar-nos na defesa da região", vincou.
Pedro Carvalho, da CDU, deu o exemplo dos problemas relacionados com TAP para mostrar que a oposição do PCP às privatizações não é "um preconceito ideológico".
O comunista frisou, também que, "independentemente da forma de reversão [da privatização], a principal exigência é uma estratégia de desenvolvimento regional".
No sábado, o Governo anunciou a reversão da privatização da TAP, explicando que vai pagar 1,9 milhões de euros para o Estado ficar com 50% da TAP (em vez de 34%).
Este foi o resultado das negociações com o consórcio Gateway, que tinha 61% do capital da companhia e que agora fica com 45%, podendo chegar aos 50%, com a aquisição do capital à disposição dos trabalhadores.
Na segunda-feira, Rui Moreira, desafiou o Governo a dar ordens à TAP para restabelecer as ligações internacionais que a transportadora anunciou querer suspender partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro.