Uma mulher de 84 anos tentou, anteontem, quarta-feira, retirar de um poço o cordeiro que lá caiu. Idosa e animal morreram afogados.
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A aldeia de Carregal, em Queirã (Vouzela), chora a morte de uma conterrânea que, apesar da idade, não desistia de manter-se activa.
O primeiro sinal de que algo de grave poderia ter acontecido com Virgínia Saraiva foi dado cerca das 15.30 horas. Altura em que o pequeno rebanho que a idosa todos os dias levava a pastar, nos lameiros próximos, regressou a casa sozinho.
A confirmação da desgraça chegou quase duas horas depois, ao fim de muitas e aturadas buscas, quando um grito de desespero se ouviu na aldeia de Carregal, freguesia de Queirã: Maria de Lurdes Saraiva Oliveira tinha acabado de encontrar o corpo da mãe a boiar dentro de um poço.
"A filha começou a procurar a mãe logo que as ovelhas chegaram sozinhas a casa. Até parou à minha beira para saber notícias dela. Por isso, quando ouvi aquele grito desesperado, vi logo que alguma coisa de muito grave tinha acontecido com a nossa vizinha", relata António Chaves. Localizado num terreno agrícola a cerca de um quilómetro da casa onde a vítima morava com a filha, o poço, com cinco metros de profundidade, cheio de água, estava coberto com tábuas de madeira. Lá dentro estava o corpo de Virgínia Saraiva e do cordeiro que tentou salvar.
"Tudo indica que ao ver o bicho na água se tenha debruçado para o agarrar. Mas como as forças nesta idade já não são muitas e o animal estava mais pesado, por estar dentro da água, a senhora Virgínia acabou por cair também lá dentro", relata comovida a vizinha Maria Elsa Gomes.
Ajudado por outro morador, António Chaves conseguiu, à custa de muito esforço, retirar o corpo da idosa.
"A filha estava aqui. Assistiu a tudo banhada em lágrimas. Foram momentos muito dolorosos", confessa o vizinho. Ainda incrédulo com a capacidade da vítima em percorrer quase um quilómetro, por um caminho pedregoso e enlameado pela chuva intensa dos últimos meses, "com uns chinelos nos pés e um rebanho de cinco ovelhas e duas crias à sua guarda".
Filha perdeu a sogra e a mãe
O neto da vítima, Hugo Oliveira, cumpriu ontem a ingrata tarefa de ir ao poço onde a avó morreu, resgatar o cordeiro e enterrá-lo.
"Os meus pais não queriam que ela andasse com o gado. Mas não valia a pena contrariá-la. Quem a quisesse ver feliz, era a cuidar dos animais. Costumava ir para os lameiros à volta de casa. Desta vez, não sabemos porquê, foi para mais longe", desabafou o jovem.
A aldeia de Carregal está de luto. Como esteve, em Junho do ano passado, quando a filha de Virgínia Saraiva viu a sogra morrer carbonizada.
"Um dia a idosa estava em sua casa, sentada no sofá, quando um pedaço de lenha saltou da lareira e pegou fogo a tudo. Morreu carbonizada. É muita má sorte", lamenta outra vizinha.