
Foi mobilizado, contra a vontade, pelo regime salazarista para a guerra do Ultramar
Foto: D.R.
A Comissão de Homenagem aos Democratas do distrito de Braga lamentou, esta quarta-feira, em comunicado, o falecimento do democrata e advogado António Oliveira Estrada, que ocorreu esta manhã em Vila Verde.
O organismo adianta que o advogado e opositor ao Estado Novo, com 89 anos, foi homenageado em duas iniciativas recentemente realizadas em Braga e em Vila Verde. O seu funeral realiza-se na próxima sexta-feira, às 10 horas da manhã, na freguesia de Escariz S: Martinho, Vila Verde, de onde era natural.
Uma breve biografia escrita pelo seu filho Rui Estrada descreve que António de Oliveira Gonçalves Estrada nasceu em Escariz São Martinho, Vila Verde, Braga, a 22 de outubro de 1934. Licenciou-se em Direito em Coimbra em 1960 e começou a exercer advocacia em 1962, num escritório em Vila Verde.
Em 2012, cumpridos 50 anos de profissão, foi homenageado, no tribunal da comarca de Vila Verde, pela Ordem dos Advogados na pessoa, à data, do bastonário Marinho e Pinto.
Foi mobilizado, contra a vontade, pelo regime salazarista para a guerra do Ultramar, tendo estado por um período de dois anos em Moçambique, onde foi capitão de uma companhia de soldados. Dizia muitas vezes, aos familiares e amigos, que, tendo passado por essa experiência, pouco ou nada o poderia surpreender.
O jurista militou ativamente contra o regime ditatorial do Estado Novo, nomeadamente no âmbito da CEUD, Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, constituída por opositores democratas ao Estado Novo para disputar as eleições legislativas de 1969.
Esse ativismo – salienta - “levou a que a DGS (Direção Geral de Segurança) – que manteve as mesmas funções da infame PIDE - o vigiasse e condicionasse”. E anota, a propósito: “Em documento datado de 26 de setembro de 1972, a DGS comunica ao Governador Civil de Braga o seguinte: 'Os elementos oposicionistas desse distrito, militantes das duas correntes políticas definidas pelas extintas CDE e CEUD, respetivamente comunista e socialista, criaram uma comissão comum com vista a estabelecerem uma única linha de orientação política de luta contra o Governo da Nação'”.
Nesse mesmo documento aparecem, entre outros, estes opositores: Tinoco Faria, Cunha Coelho, António de Oliveira Estrada, Macedo Varela, José Lestra Gonçalves, e Manuel Ferreira da Cunha.
O 25 de Abril apanhou-o quando regressava de um julgamento em Viana Do Castelo. O advogado contou que quando ouviu pela rádio o que se estava a passar, parou o carro e chorou de alegria.
Já em liberdade, foi próximo do Partido Socialista, sem ter exercido qualquer cargo político executivo. A vida profissional de advogado era a escolha e o trabalho.
Entre outras atividades de natureza social, é sócio fundador do Clube Rotário de Vila Verde.
Desde a reforma, viveu na aldeia em que nasceu.
