Celeste Silva, 67 anos, perdeu o marido, José Ferreira, de 65, no corredor da Urgência do Hospital de Lamego à espera de ser visto por um médico.
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A viúva queixa-se da falta de assistência atempada e afirma que "se fosse atendido, não teria morrido". Porém, diz que não vai apresentar queixa contra o hospital nem pediu autópsia "por falta de recursos financeiros para sustentar todos os encargos".
José Ferreira deu entrada na Urgência na terça-feira, "pouco depois da hora de almoço". Sofria de arritmia cardíaca e a bomba de oxigénio acompanhava-o sempre. Mas a viúva acredita que não era essa condição que o fazia sentir-se mal nesse dia.
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Passadas horas a fio à espera, Celeste Silva entrou em "desespero" ao ver o marido com dores abdominais, a vomitar "e sem ver maneira de o socorrerem". Disseram-lhe que à sua frente tinha seguramente "mais de 200 pessoas". "Chamavam toda a gente menos o meu marido, que estava aflito", conta a viúva, poucas horas depois do funeral do homem, na quarta-feira, em Sande, Lamego.
Morreu-lhe nos braços
Eram "oito e tal da noite", lembra, revoltada, quando o marido piorou. "Foram quase seis horas de espera, ninguém nos valeu", conta, recordando: "Acabou por morrer nos meus braços, a pedir por ajuda".
"Parecia um filme de terror", diz, lembrando ainda que, quando José deu o último suspiro, "apareceram tantos médicos, tantos enfermeiros, que nem se sabia de onde vinham. Quando ele precisava, não apareceu ninguém". Celeste Silva acredita que o homem morreu "por falta de assistência atempada".
A viúva diz que foi contactada pelo Ministério Público para se pronunciar relativamente à queixa e ao pedido de autópsia: "Avisaram-me de que precisava de bons advogados e que ia ter muitos encargos" . Por esse motivo, afirma que não vai apresentar queixa e não pediu autópsia, pois não tem dinheiro para as despesas: "Vou buscá-lo onde? Como o quê?. Eles agora ficam sem a queixa e eu sem o marido".
O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro afirma que pediu autópsia e o Ministério Público "dispensou" a sua realização. Informou ainda que "não entrou qualquer reclamação proveniente da família", contudo, garante que "está em curso o processo de inquérito".