O Mosteiro de Pedroso, fundado pelos beneditinos no século XI em Gaia, poderá ser classificado como monumento nacional. A Câmara propõe a distinção do complexo religioso ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).
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A devoção a S. Bento perdura até aos dias de hoje com expressão na festa popular de Julho, apesar de S. Pedro ser o padroeiro. Na vila, a fé resistiu à passagem do tempo, tal como o mosteiro, que sofreu, porém, significativas alterações arquitectónicas ao longo dos séculos. A mudança não mancha a importância do monumento classificado como imóvel de interesse concelhio em 1988. O Município e o historiador Gonçalves Guimarães crêem que é merecedor de distinção maior.
"O Mosteiro de Pedroso é anterior à fundação da nacionalidade e é uma das poucas estruturas que restam em Gaia com simbologia medieval", explica o historiador, assinalando a "importância local e nacional" do conjunto monástico que esteve sob a dependência do Cardeal D. Henrique e, mais tarde, dos jesuítas.
"O padre António Vieira foi condenado ao internamento no mosteiro pelos jesuítas, mas acabou por cumprir a penitência noutro local", continua. A história guarda, em 1669, o relato da passagem de Cosme de Médicis por Pedroso. No diário da viagem a Santiago de Compostela, conta-se que o príncipe assistiu à missa na "piccola chiesa" (pequena igreja, em italiano) num domingo e distribuiu esmolas aos pobres.
No entanto, à semelhança de outros mosteiros fundados nos séculos XI, XII e XIII pelos beneditinos, o de Pedroso foi fundamental para o povoamento do território. "A população foi-se fixando em torno do mosteiro. As pessoas trabalhavam os terrenos agrícolas do mosteiro e seguiam a mensagem de S. Bento: orar e trabalhar", atenta o padre Custódio, responsável pela igreja que, embora não seja muito visitada, inspira o afecto. "Por aqui, o povo de Pedroso tem muito gosto no mosteiro", afiança o pároco. A igreja só abre às horas de culto e é mais provável encontrá-la acessível aos fins-de-semana.
A classificação como monumento nacional proporcionará preservação alargada e inspirará mais estudos. É, pelo menos, a expectativa de Gonçalves Guimarães. "A actual freguesia de Pedroso é decalcada com pouquíssimas alterações do couto do mosteiro", acrescenta. Apesar das alterações sofridas ao longo dos séculos, o historiador realça que só o claustro desapareceu.
Após a expulsão dos jesuítas, a propriedade foi retalhada e vendida. A igreja permaneceu como matriz da freguesia, mas os restantes edifícios e terrenos passaram para as mãos de particulares. Em 1803, ergueu-se um muro a separar a igreja da casa conventual e crê-se que o claustro terá sido demolido nessa altura.