Motociclistas pedem proteção de Nossa Senhora em Fátima

É debaixo do toldo de um dos quiosques de comida nas imediações do Santuário que Gil Fernandes e os amigos procuram proteger-se da chuva que cai incessantemente na Cova da Iria. Falta ainda uma hora para o início da celebração da bênção dos capacetes e o grupo, vindo de Santo Tirso e de Paços de Ferreira, aguarda a chegada de outros companheiros vindos da zona de Lisboa.

"Estamos em representação dos motards das polícias municipais. Viemos pelo convívio, pela fé e pedir a proteção de Nossa Senhora", conta Gil Fernandes, que participa, pela quarta vez, na peregrinação anual dos motociclistas a Fátima que, esta manhã, juntou cerca de 70 mil motards, segundo dados organização, a cabo da Associação Bênção dos Capacetes.

Entre os peregrinos encontrava-se também Dalila Lopes, do Motoclube Pata Negra, de Barracos, que veio como pendura na moto conduzida pelo marido. "Apaixonei-me por ele e pelas motas há 21 anos", conta, entre risos, para num tom mais sério referir que participa na bênção, sobretudo, para "pedir proteção" para os membros do seu grupo motard e para "todos" os motociclistas. "O que nos move é a paixão pelas motos e a fé", afirma.

O mesmo espírito é partilhado por Vânia Gil e Luís Cardim, residentes em Alhos Vedros, no concelho da Moita, mas que fazem parte de um motoclube de Gaia, os "Abençoados". O casal conta que visitam regularmente Fátima, mas Vânia confessa que esta peregrinação tem um "significado especial".

"Estamos entre os nossos companheiros e, juntos, pedimos proteção. Há ainda o convívio e o reencontro de amigos", acrescenta Dinis Reis, que integra um grupo de motards residentes em Vale Travesso, aldeia próxima de Fátima, que repete a presença na bênção dos capacetes, este ano, com apadrinhamento do ator Pedro Granger e da fadista Kátia Guerreiro.

Em declarações aos jornalistas antes do início da cerimónia, a cantora confessou que recebeu o convite com "muita honra", pelo "voto de confiança" por a considerarem "alguém que pode transmitir a confiança e serenidade que os motociclistas procuram nesta bênção". A fadista destacou ainda o caráter solidário do evento, através da angariação de fundos para ajudar motociclistas sinistrados, confessando-se comovida pelo "espírito de união e de solidariedade que existe nos clubes motards".

Por seu lado, Pedro Granger, que para além de ser motociclista já sofreu um acidente grave, destacou o significado de o encontro decorrer em Fátima: "um sítio especial", e o espírito de "união" entre os motociclistas. O ator defendeu ainda a importância de "desconstruir a imagem de irresponsabilidade" associada aos motards, por entender que "não corresponde à realidade". "Não somos todos uns irresponsáveis, uns loucos, muito pelo contrário. Nós, os motociclistas, somos responsáveis, temos sentido cívico", afirmou.

Mais motociclistas na estrada

No mesmo sentido falou Paulo Balau, da organização do evento, para quem o aumento do número de acidentes e de mortes que envolvem motociclistas se deve ao facto de ser agora permitida a condução de motociclos com cilidrada até 125 centímetros cúbicos a quem tem carta de condução de categoria A. "Isso faz com que haja mais motociclistas. E havendo mais motos a circular, há mais sinistros", sustenta, deixando um apelo de "respeito mútuo" entre automobilistas e motards. "Todos andamos na estrada e todos temos alguém em casa à nossa espera."

Já Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, salientou o crescimento que o evento registou ao longo dos anos, começando por ser uma iniciativa "discreta", realizada num dos parques de estacionamento da Cova da Iria, até ao modelo atual, de "grande peregrinação" nacional. "Alegre-nos particularmente acolher este grupo específico, com quem procuramos trabalhar no programa, que foi evoluindo progressivamente no sentido valorizar esta peregrinação, para que seja um momento significativo para quem nele participa", disse o sacerdote, que presidiu à celebração.