A Norte, o ponto de encontro é no Forte de S. João, Vila do Conde. A Sul, é no Furadouro, Ovar. Pelo meio, duas auto-estradas: A28 e A29. São muitas, muitas motos. Aos domingos de manhã, a alta velocidade toma conta do asfalto.
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"Quem compra uma moto destas não é para andar a 120", confessa um dos muitos motards que transformam a estação de serviço de Ovar em parque de exposições de máquinas reluzentes. Pedro Silva e Pedro Silva, sim, Pedro Silva e Pedro Silva, pai e filho, garantem que os limites são respeitados. "Quase sempre", sorri Pedro Silva, filho, gosto pelas duas rodas incutido pelo pai "desde pequeno". Ambos sabem que o radar que a GNR põe na A29 dispara aos 140 quilómetros por hora.
Uma voz feminina queixa-se da "caça à multa". Ouvem-se críticas à "perseguição" aos motociclistas.
"A lei não acompanha a evolução das motos e dos automóveis. Continuámos com os mesmos limites de há 20 ou 50 anos", aponta Daniel Vieira, lembrando que as máquinas actuais permitem uma travagem mais eficaz e em muito menos metros. "A velocidade de cruzeiro de uma moto será os 160 quilómetros/hora", indica Rui Valente. "Se for a 120 adormeço em cima da moto", comenta o jovem, bem-disposto. Muitas vezes, quem manda é "o punho".
Manda mais na A28. Ali há muitos despiques entre motards, que chegam a atingir velocidades entre os 250 e os 300 quilómetros por hora. Só na curva antes da saída de Modivas, em Vila do Conde, no sentido Norte/Sul, já morreram mais de 10 motociclistas.
A Aenor confirma "imensas queixas" sobre os "picanços" entre motards. A GNR tem actuado com frequência, com o carro-radar e fazendo cortes das vias da esquerda para obrigar os mais apressados a abrandar. Aos domingos, as fiscalizações são constantes, contou, ao JN, uma fonte do Destacamento do Porto.
"É impossível controlar as corridas, são actos inesperados", acrescentou, explicando que, na maior parte das vezes, os picanços surgem nas áreas de serviço, pontos de encontro privilegiados.
Contactada pelo JN, a Aenor, concessionária da A29, diz que não tem qualquer reclamação de utentes ou das forças policiais sobre " corridas". Os "picanços" na A29 são "situações pontuais", referiu fonte do Destacamento de Aveiro da GNR, admitindo que alguns dos infractores frequentes estão já identificados pelas autoridades. "Temos punido e apreendido algumas motos", acrescentou. Os rituais dos motociclistas já são conhecidos. Juntam-se no Furadouro (Ovar) e em Vila do Conde, para tomar o pequeno-almoço ou um café. O convívio estende-se às áreas de serviço existentes. Há motos de pista, fatos de competição completos a rigor. O regresso, à hora do almoço, é feito a todo o gás. Poucos cumprirão os 120 quilómetros por hora. Nos viadutos sobre as auto-estradas chegam a juntar-se muitas pessoas para assistir ao "espectáculo" das motos a passar a alta velocidade. Poderiam os apressados ir para um circuito? Falta "adrenalina", "assistência" e "perigo". Fintar a polícia é parte da piada.
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