Movimento Vida Justa denuncia demolição de 60 barracas contra providência cautelar
O Movimento Vida Justa denunciou a intenção da Câmara Municipal de Loures em demolir 60 casas abarracadas no Bairro do Talude, a partir de segunda-feira, e em alegado desrespeito a uma providência cautelar emitida pelo Tribunal de Loures.
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Em causa estão, de acordo com este movimento, os abrigos de 62 crianças, uma delas com deficiência, um idoso e as respetivas famílias. Ao JN, a autarquia afirma agir dentro da legalidade e critica o Movimento "por instrumentalizar pessoas em situação de vulnerabilidade".
Uma moradora no Bairro do Talude já viu as suas quatro paredes serem demolidas três vezes. “Quebram as casas e deixam na rua as famílias com as crianças, tivemos que reerguer três vezes a casa que demoliram”, diz a mulher, que vive neste bairro com o companheiro e dois filhos de dois e cinco anos. “Dizem que são barracas, mas são as nossas casas, não estamos aqui porque queremos e as soluções que nos dão são a comparticipação de uma renda, o que é quase nada porque não temos dinheiro para suportar as rendas aos preços de hoje”, diz, acrescentando que foi obrigada a ir para este bairro quando deixou de poder pagar renda no quarto onde vivia até ao ano passado.
O Movimento Vida Justa afirma que, na sexta-feira, foram afixados editais em todas as habitações do bairro, anunciando a sua demolição em 48 horas. “A Câmara de Loures continua a sua política de expulsão dos mais pobres do concelho, culpando as vítimas da crise de habitação, destruindo casas perante crianças e os seus pais em desespero”, refere o movimento em comunicado, dando conta que em curso está “uma política terrorista de direcionamento de famílias inteiras à pobreza extrema, destruindo vidas”.
A Câmara Municipal de Loures afirma que "atua sempre dentro da legalidade, em respeito absoluto pelas decisões judiciais e com prioridade à segurança, à saúde pública e à dignidade humana". "Lamenta-se, uma vez mais, que o movimento Vida Justa continue a instrumentalizar pessoas em situação de vulnerabilidade, sem apresentar qualquer solução concreta para o problema grave da proliferação descontrolada de construções ilegais".
No passado dia 30 de junho, foram demolidas outras 36 casas neste bairro. A moradora conta que a sua casa não foi alvo de notificação, mas no bairro, “toda a gente chora, estão todos desesperados com o que vai acontecer, é muito triste ver como estamos a ser tratados”.
O Movimento Vida Justa, que denuncia de casos de despejos sem alternativa de habitação em bairros degradados, esclarece que há uma providência cautelar apresentada ao tribunal para suspender os despejos, afirmando que o Município ficaria “impedido de executar o ato de demolição”.