Ruas sem passeios. Passeios sem rebaixamentos que dificultam a vida a quem anda de cadeira de rodas, de bengala ou a empurrar carrinhos de bebé.
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Postes de semáforos ou de eletricidade no meio de passeios. Ausência de sinais sonoros. Transportes públicos sem rampas para facilitar a entrada a quem tem mobilidade condicionada. A população está a envelhecer.
João Cottim Oliveira foi provedor do Cidadão Deficiente da Área Metropolitana do Porto. O caminho é longo, há muito para fazer. "Há muita propaganda e pouco trabalho nesse sentido", comenta. Quando o tema é inclusão nas cidades, há várias coisas que o chateiam. Discursos políticos centrados em acessibilidades, mas desconstruídos pela realidade. "Há hipocrisia por parte dos autarcas", acusa. "Se formos para as periferias das cidades, não há acessibilidades para ninguém", observa. E a legislação não é cumprida. "Saiu uma lei que apontava para que em 2007 não houvesse barreiras arquitetónicas em nenhuma cidade. Estamos em 2016 e a realidade é completamente diferente". "Há falta de vontade política de quem tem poder, dos autarcas, falta de ação do movimento associativo". E a inclusão nas cidades fica na teoria, custa a passar para a prática. "Falta cuidado quando se começa uma obra. Não há preocupação com a obra em si, com a sinalização, como também não há preocupação que a obra seja feita para todos e não só para alguns".
E há questões que não são discutidas. Porque não se embarga uma obra quando ela não cumpre os requisitos das acessibilidades para todos? "Temos uma taxa de desemprego de pessoas com deficiência que ronda os 40% e ninguém se preocupa com isso".
Places4All é um sistema que passa a pente fino as acessibilidades de vários locais do país. Estacionamento, percurso exterior, entrada, percurso interior, bens e serviços e WC são analisados à lupa. para perceber se seis dimensões de um lugar garantem conforto, autonomia e segurança a quem os utiliza. Hugo Vilela fundou este projeto de inovação social. "Há cada vez mais municípios preocupados em garantir uma política de inclusão", admite. Inclusão e acessibilidades entraram no vocabulário de quem faz questão de olhar para essas duas palavras como, sublinha, "fatores de atratividade das cidades". "Há mais cidades preocupadas em receber bem e a acessibilidade é um fator que permite esse conforto e essa comodidade", realça. Mas a comunidade está a envelhecer. "Há muito por fazer até porque as pessoas vão perdendo capacidades físicas e sensoriais". "Acessibilidade é muito mais do que as pessoas pensam", conclui.