Duas escolas do concelho encerraram esta segunda-feira, depois de identificados três casos positivos.
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Nos 350 metros que separam a Escola Secundária da Amadora da Escola Básica 2,3 Roque Gameiro, no concelho da Amadora, já não se ouvem as crianças e adolescentes no recreio e as ruas estão desertas. Os dois estabelecimentos de ensino foram encerrados, hoje de manhã, depois de na semana passada terem sido identificados três casos de coronavírus. Um, de uma professora da Roque Gameiro, que esteve de férias em Milão, na Itália, e os outros dois de alunos de cada uma das escolas. Manter-se-ão fechadas até 20 de março.
"Esta zona está muito mais parada", garante Helena Teixeira, 50 anos, funcionária de um café em frente à Escola Básica Roque Gameiro. "A partir das 8 horas e a esta hora (de almoço) o café estava cheio de professores, alunos, pais ou funcionários. Agora, está praticamente vazio", lamenta.
Além da comunidade escolar, outros clientes deixaram de aparecer. "Uma habitual, que costuma vir cá tomar o pequeno-almoço, não vem há três dias e disse-me que é por causa do vírus. Há pessoas que têm medo de sair de casa", conta. "No sábado, quando costumávamos ter muita afluência, não estava quase ninguém", exemplifica ainda.
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A proprietária do café ainda ponderou fechá-lo temporariamente, mas Helena motivou-a a não o fazer. "Estamos a sentir uma quebra nas vendas muito grande, mas não podemos parar, senão o prejuízo é ainda maior", acredita.
Conceição Silveira, 55 anos, mãe de dois alunos da Roque Gameiro, com 11 e 14 anos, também está "muito preocupada". "Principalmente com o mais novo, que é mais frágil", desabafa. Os estudantes não têm sintomas, mas, por prudência, Conceição mede-lhes a febre regularmente e até fez um desinfetante caseiro, "com álcool e aloe vera". "Estive a fazer umas pesquisas na internet e cheguei à conclusão de que o gel desinfetante, que se vende nas farmácias, não é tão eficaz", explica.
O apoio, confessa, também podia ter sido melhor. "Liguei mais de vinte vezes para a Linha Saúde 24, desde de manhã, mas só me atenderam ao final da tarde", recorda. "Liguei também à minha seguradora, que me explicou o que devia fazer", acrescenta. Os filhos de Conceição não tinham aulas com a professora infetada, mas, lembra, "podiam ter apanhado o vírus através de outros miúdos". "Depois da professora ter vindo de férias, num país onde há muitos casos de coronavírus, não devia ter vindo para a escola. Foi irresponsável", critica.
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A menos de meio quilómetro da escola básica, em frente à Escola Secundária da Amadora, veem-se ainda menos pessoas. O silêncio não é totalmente estranho numa zona dormitório da Grande Lisboa, mas as pessoas estranham a falta da movimentação habitual. Adélia Ramos atravessa a rua apressada com o marido, que tem uma doença oncológica e já está protegido com uma máscara.
"Vivemos na confluência das duas escolas e estamos com medo, porque o vírus está-se a propagar muito rápido", desabafa. No Instituto Português de Oncologia de Lisboa as máscaras já esgotaram. "Percorremos várias farmácias, onde também esgotaram, e acabamos por encontrar uma. Acho que devia haver mais informação e investigação mais a fundo. Receio que não estejamos muito preparados", teme.