Coleiras GPS enviam localização para o telemóvel dos criadores da raça maronesa. Falta de rede móvel dificulta localização em algumas zonas.
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Avelino Rego lembra-se bem do que era andar horas à procura das vacas maronesas na vasta serra no Alvão. Desde que lhes apertou ao pescoço uma coleira com GPS, basta-lhe abrir a aplicação no telemóvel para saber onde estão. O problema é quando estão em zonas sem rede, que ainda são muitas. Os criadores reclamam das operadoras de telecomunicações o reforço de cobertura.
Atualmente, 20 produtores têm 50 coleiras instaladas nas suas manadas, que, em conjunto, somam 500 vacas. Os dispositivos GPS estão a ser distribuídos no âmbito do "Life Maronesa". É um projeto de dois milhões de euros para cinco anos coordenado pela associação AguiarFloresta, sediada em Vila Pouca de Aguiar.
Para além deste concelho, o "Life Maronesa" abrange os de Ribeira de Pena, Mondim de Basto e Vila Real, que constituem o solar da raça autóctone, com um efetivo de 4000 vacas reprodutoras. São milhares de hectares onde "nem sempre há sinal de GPS", diz Avelino, pelo que foi necessário "colocar retransmissores ao longo da serra". Caso contrário, "as coleiras não poderiam ser usadas".
Apesar do reforço, ainda há "zonas-sombra onde não há qualquer sinal". Daí que tenha de ser feito "mais um esforço para colocar retransmissores", salienta Avelino Rego. Na sua opinião, "o ideal seria que fossem cobertas pelas operadoras de telecomunicações".
O engenheiro informático que pendurou o teclado para se dedicar a tempo inteiro a criar 40 vacas, em Lamas, Ribeira de Pena, defende mesmo uma espécie de "roaming rural" para a serra do Alvão. Tal permitiria a umas operadoras usarem os equipamentos das outras, de modo que não houvesse falhas na captação do sinal de cada uma delas.
Responsáveis da ANACOM foram recentemente ao terreno perceber a reivindicação dos criadores. Segundo Avelino Rego, informaram que "no âmbito do leilão do 5G as freguesias da serra vão ter cobertura de rede reforçada".
Equipamento nas líderes
As coleiras GPS não são colocadas em todas as vacas. Avelino Rego explica que elas "dividem-se em pequenos grupos quando vão para o monte". Basta "compreender quais são as líderes" para serem elas a usar o equipamento. Na aplicação do telemóvel é definido um perímetro para além do qual não podem ir. "Se os animais se deslocarem para fora dele, recebo uma mensagem a informar que saíram da área prevista", salienta o criador.
O uso de novas tecnologias pelos criadores é apenas um dos objetivos do projeto. Importa que as novas gerações se interessem pela atividade. Daí a necessidade de tornar o maneio logístico mais eficiente e de incorporar inovação para se manterem competitivos.
Mas a tendência ainda continua a ser o abandono. "Tenho dois colegas de Alvadia que venderam os efetivos e emigraram", recorda Avelino. A justificação tem a ver com a dificuldade que existe para "encontram modelos de negócio que garantam alguma previsibilidade de rendimento".
Para que isso aconteça há vários desafios, como o trabalho de gestão da paisagem e de prevenção dos fogos florestais que "tem de ser remunerado". E também há a "necessidade de comunicar melhor", para que a carne maronesa "possa ser mais valorizada" e com isso "haver maior rentabilidade das explorações que apostam no pastoreio extensivo".
Cada vez menos animais em estábulo
O desenvolvimento do Life Maronesa está a meio e com "execução dentro do previsto", de acordo com Duarte Marques, presidente da AguiarFloresta, associação que coordena o projeto. A componente produtiva é a que está "mais avançada" e com "bom acolhimento" por parte dos criadores. Engloba a "colocação de manjedouras, mangas, coleiras com GPS, a monitorização do maneio animal e a fertilização dos lameiros". O processo do incremento do pastoreio ao ar livre "supera as expectativas". Alguns produtores "já não têm vacas em estábulo em qualquer período do ano". Outra área com "muito impacto" é a "disseminação de conhecimento e boas práticas", bem como a "visibilidade pública do projeto como resposta ao desafio de gerir melhor o território de montanha".