Sem aviso, o cuco de um relógio intromete-se na conversa. Os ponteiros denunciam umas 11.30 horas, e, claro, não há licença que se peça: a cantilena repete-se a cada 30 minutos, aconteça o que acontecer.
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Mais tímida, a melodia de um carrilhão vem depois, em tom de sino. Nada que exaspere Filipe Marques que, em 2007, com 27 anos, se associou a outros dois colaboradores da centenária e, então, "estagnada" fábrica de relógios Boa Reguladora, em Calendário, Famalicão, para proporem a compra da marca e das peças.
Chamaram Regularfama à nova empresa e instalaram-se num dos quatro pisos do edifício principal da velha firma, onde, no tempo em que a Reguladora foi um colosso, "eram só escritórios".
Por entre roldanas douradas e uma infindável minudência de peças, os dois homens que se mantêm na sociedade - Filipe Marques e José Varela, de 61 anos - fazem mais do que acertar a famosa Ave-Maria dos carrilhões: ajustam contas com um passado áureo e projetam um futuro mais próspero do que as poucas reparações e raríssimas encomendas com que as "modas" e a "crise" lhes devolvem o investimento e o resgate da marca saída da 1.ª fábrica de relógios da Península Ibérica (data de 1892).
"Não dava para viver só disto. Estamos cá há cinco anos e não tiramos lucro algum. Mas gostamos e demos muito para aqui. E também trabalhamos com a esperança de que possamos ganhar alguma coisa no futuro, porque cada vez mais há menos pessoas a saber fazer isto", diz Filipe. Presentemente, os quatro trabalhadores da Regularfama "restauram todas as marcas" de relógios e fabricam "só por encomenda".