Curiosos, turistas e portugueses, portuenses ou não, encheram esta sexta-feira de manhã o Mercado Time Out junto à estação de S. Bento, no Porto. Para Eduardo Souto Moura, arquiteto que assina o projeto, "é um alívio enorme" ver a obra pronta e com gente dentro.
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Com os ponteiros do relógio quase a bater nas 12.30 horas, formava-se um grupo de pessoas (portugueses e turistas) à porta do Mercado Time Out, na ala sul da estação de S. Bento, no Porto, junto à Rua do Loureiro, curiosas para conhecer o espaço.
Foi esse o caso de Luciana Almeida, de 38 anos. Acompanhada por duas amigas, decidiu ir experimentar os pratos, muitos deles com assinaturas de chefs galardoados com estrelas Michelin e que marcam presença naquele espaço. As três estudaram no Porto e é habitual juntarem-se, de vez em quando, para almoçar. "Só não sabíamos que ia estar a chover. Isso é que correu mal", lamenta, ao som dos pagers que avisam que a comida já está pronta.
Para o arquiteto Eduardo Souto Mouta, "é um alívio enorme" ver a obra concluída. "É muito mais difícil aprovar os projetos do que fazê-los e realmente foi muito difícil construir isto", admite, no topo da torre de 21 metros, junto ao mercado, que muito deu que falar.
Às críticas sobre esse novo elemento, responde que "os portugueses são sempre pequenos". "E depois há esta mania de que tudo o que é antigo não se pode mexer", considera, explicando que a ideia foi recordar o formato antigo dos depósitos de água que existiam junto às estações. "Interessei-me sempre muito pelas construções industriais", explica.
Além disso, acrescenta que a torre "tem uma função estratégica, não é só pelas vistas". "Antes de existir aqui isto, sentia-se um odor urbano insuportável, era um posto de toxicodependentes. Isto divide a parte pública e a parte de serviços, de logística e retaguarda", explica o arquiteto, em declarações ao JN. No cimo da torre, foi construída uma sala de prova de vinhos.
Também o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e alguns membros do seu Executivo, marcaram presença na abertura, bem como o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins.
Um quarteirão de comida "autêntica"
Mas as luzes que passavam pelas portas envidraçadas de uma outra entrada, pelo interior da estação de caminhos de ferro, também chamavam à atenção de muitos turistas que saíam dos comboios de malas na mão, com fome. Lá dentro já está Petro Heerenveen, de 49 anos, acompanhado pelos dois filhos. Chegou ao Porto esta quinta-feira à noite e foi mesmo o taxista que os conduziu até ao hotel quem os avisou da abertura do Mercado Time Out.
Estando já familiarizado com outros mercados da empresa, Petro reconhece que o dos Países Baixos, de onde partiram, "é um quarteirão de comida com muitas culturas". "Este é mais autêntico. E a cultura portuguesa tem muitos pratos", reconhece Petro.
Em frente à mesa onde Petro está sentado com os dois filhos, duas amigas de infância, trocam impressões sobre como está a correr o dia da inauguração. Uma, está do outro lado da bancada. É a chef da Casa Inês. No corredor, está Ana Pinho, portuense, a matar a curiosidade sobre como ficou o espaço.
"É muito melhor estar assim do que ao abandono. Não é só para estrangeiros, é para nós também. Nos outros países também não é só para turistas", considera.
À medida que o tempo passa, as longas mesas de madeira começam a encher-se de grupos de amigos ou familiares. Formam-se filas em frente aos restaurantes tanto para fazer os pedidos como para observar a forma como trabalham chefs reconhecidos internacionalmente, dificultando também a mobilidade de quem já tem o prato na mão e quer sentar-se a comer.
Português, inglês e espanhol
Por entre quem decidiu, esta sexta-feira, almoçar ou petiscar no Tábua Rasa, ouvem-se maioritariamente conversas em português, inglês e espanhol. E mesmo entre os portugueses, nem todos são portuenses.
Samuel Marques, 23 anos, e Madalena Sérgio, 22, por exemplo, são de Lisboa mas estão no Porto "a passar uns dias". Habituados ao Mercado Time Out da Ribeira e aos diferentes estilos de comida, Madalena sente que aqueles pratos são "bastante semelhantes", todos típicos de cozinha tradicional portuguesa. Samuel, por exemplo, sugere a introdução de um restaurante chinês.
Contudo, o objetivo deste Mercado Time Out é precisamente esse: o de apresentar aos visitantes pratos e ingredientes mais típicos da região. Por isso mesmo é que casas como a Padaria Ribeiro e a Casa Inês, por exemplo, fazem também parte do projeto.
"Faz sentido", reconhece o casal lisboeta.