"O Porto Summer School não é só importante para nós, é também para Portugal". É assim que Nuno Crespo, Diretor da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, começa por definir o projeto "Não Foi Cabral", que termina hoje, na Escola das Artes. O evento é composto por concertos, sessões de cinema e exposições.
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"Não Foi Cabral", o nome atribuído à 6.ª edição do Porto Summer School on Art & Cinema, foi inspirado numa música da artista brasileira MC Carol, que marcará presença no projeto, e "um mote muito interessante e uma maneira inteligente de transmitir" o objetivo do programa, explica Nuno Crespo.
A ideia para a criação deste projeto surgiu através do interesse que a escola tem acerca do passado histórico e português, desenvolvendo ao longo do tempo vários trabalhos sobre o "decolianismo e a relação com o Brasil", afirma o responsável. O projeto, que já tinha começado a ser explorado no ano passado, pretende provocar alterações de consciência daquilo que é a narrativa ortodoxa da história em Portugal, e Nuno Crespo espera "que através das práticas artísticas e da sua exibição, possamos alterar criticamente o que foi a história portuguesa".
"Abrimos os livros de história e encontramos um discurso muito positivo face áquilo que foi verdadeiramente o processo de chegada dos portugueses ao brasil e a violência que carregou", tornando assim o projeto "Não Foi Cabral" numa forma de quem o assiste ganhar consciência do que "verdadeiramente significou a chegada de um povo estranho a um país estranho". Já a pensar no futuro, Nuno Crespo pretende "continuar esta discussão, mas aprofundar o eixo Portugal-Angola".
São vários os artistas que marcam presença nesta iniciativa. Dino D'Santiago, Keila Sankofa, MC Carol e Lilia Schwarcz, que trazem a Portugal um dos projetos mais notáveis e que mais à atenção chama na Escola das Artes, a exposição "Enciclopédia Negra", que está pela primeira vez em no nosso país e que foi inaugurada quinta-feira.
Esta exposição resulta de um esforço de integrar outros sujeitos numa história que ainda não está completa, contando com "110 retratos de personalidades negras como políticos, artistas, sambistas, advogados e engenheiros, entre outros". No entanto, os retratos são, na sua maioria, "ficções porque na história da pintura estas personagens não existem, o retrato era apenas usado pelas classes privilegiadas", diz a curadora, Lilia. "Enciclopédia Negra" tem entrada gratuita e é aberta ao público, podendo ser vista até 4 de outubro, na Sala de Exposições da Escola das Artes no Porto, e através dela é esperado que todos que a vejam abram a imaginação para outras realidades, ampliando a visibilidade de personalidades negras até hoje pouco conhecidas.