O Museu do Carro Elétrico, no Porto, abriu as portas para o tradicional desfile de carros históricos. A iniciativa atraiu várias famílias, que quiseram experimentar fazer uma viagem.
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Ana Gonçalves surge de sorriso aberto e olhar iluminado, à entrada do carro 269, branco e amarelo canário, enquanto a filha de três anos, Ana Francisca, finge que é guarda-freio. "Ela nunca andou de elétrico, e quero muito que ela faça o percurso até à Foz. Já andou de comboio, de metro e de autocarro, mas o elétrico é muito especial e gostava imenso que ela andasse", confessa a mãe, que tem 38 anos e recorda, nostálgica, as idas à praia quando era pequena.
Para matar saudades dos elétricos do Porto, a antiga passageira aproveita o dia em que o Museu do Carro Elétrico abre gratuitamente as portas aos visitantes e faz desfilar pelos carris os carros históricos. Na iniciativa deste ano, que decorreu ontem sob o tema "O carro elétrico e a palavra", desfilaram, como já é tradição, cerca de uma dezena de elétricos que moram no museu instalado desde 1992 na antiga Central Termoelétrica de Massarelos.
É num dos carros que partem em direção ao Infante que seguem, dos mais novos aos mais velhos, as famílias de Paulo Lage e do companheiro, Rui Biltes, cujo sobrinho-neto, Leonardo, é, aos três anos, o mais novo passageiro do grupo e estreante nas viagens de elétrico.
"Parava a vê-los andar"
"O elétrico tem uma magia especial, porque reporta-nos às memórias do nosso passado", diz Ana Gonçalves, que evoca o tempo de criança, em que viajava de comboio entre Paredes, onde morava, e S. Bento, no Porto, indo depois até às praias da Foz do Douro de elétrico, com a mãe e a irmã. "Era uma aventura, e tenho muitas saudades dos elétricos, que agora são mais para o turismo".
A ideia de visitar o Museu do Carro Elétrico partiu de Filipa Barreto e João Lopes, de Viana do Castelo, e, além de desafiarem Ana Gonçalves e o marido, Daniel Oliveira, também convenceram Mário Castro e Marlene Saraiva, de Gondomar. Os três casais levaram as respetivas filhas, para "lhes passar as tradições" e o gosto pelo meio de transporte que chegou ao Porto em 1895.
"Não há nada tão especial como o nosso elétrico, e fui muito feliz a andar com a minha mãe e a minha irmã. Quando eles regressaram [ao Porto] foi um fascínio; eu parava a vê-los andar", conta Ana Gonçalves.
"Andei pendurado"
"Tenho memória de ir com a minha avó à Baixa de elétrico", narra Ricardo Pereira, que cresceu na Boavista e recorda-se de, por "uma vez, ter andado pendurado" num elétrico. "Era daquelas rebeldias que se faziam", sorri o portuense, que passeia pelo museu a fotografar os carros antigos enquanto a filha se entretém no comboio insuflável, um dos divertimentos para os mais novos oferecidos pela STCP e para onde também corre a filha de Clara Megre.