Centenas de pessoas juntaram-se no Campo do Trasladário a tocar, cantar e dançar. GNR esteve no local para advertir mas não identificou ninguém.
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Foram chegando devagar, com pezinhos de lã, e aos poucos enchendo o Campo do Trasladário, em Arcos de Valdevez. Dezenas de pessoas, em grupos e em casais, a maioria com máscara comunitária a tapar o nariz e a boca e algumas trazendo bancos e cadeiras dobráveis, instalaram-se à espera. Passava pouco das 16 horas, começaram a ouvir-se baixinho concertinas, castanholas e reco-recos. Algumas mulheres, mais afoitas, levantaram os braços e desataram a dançar rodando sobre si próprias. Uma aqui, outra acolá. "Parece que estão com medo", comentava uma ao longe.
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A "roda do vira", uma festa espontânea, que já virou tradição aos domingos e feriados em Arcos de Valdevez e que (quase) tinha parado com a pandemia, ontem começou mansa, mas depressa ganhou força. Centenas divertiram-se, dançando, tocando ou apenas assistindo. A GNR deslocou-se ao local, cerca das 17 horas, para sensibilizar e advertir os grupos para manterem o distanciamento social e se limitarem a aglomerados de no máximo 20 pessoas. Não identificaram ninguém.
A essa hora já a cautela da maioria se esfumara. Depois do primeiro grupo começar a tocar, foram aparecendo outros noutros pontos do Campo do Trasladário. Até dois rapazes, ainda crianças, tocaram, sentados num banco de jardim, atraindo mais gente. "Olha, olha, ali também já tocam. São pequeninos. Vou ver", atirou uma mulher.
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Avós, pais e netos
O som foi subindo de tom. Danças e cantares em crescendo, com o povo a entregar-se à diversão. E cada vez mais gente a chegar-se. Pequenos e graúdos, ninguém para com os pés quietos. Um idoso, com viseira e máscara postas, tocava sozinho, sentado numa cadeira, no meio do povo, um pequeno bombo, com a inscrição "Armindo de Barcelos". Frágil a tocar o instrumento, mas cheio de vontade.
E assim fizeram a festa avós, país e netos, até chegarem as duas viaturas da GNR. "Estás a ver como pararam? É bem feito. O pessoal encosta-se. Estás muito bem sozinho, quando olhas para trás, tens uns quantos encostados a ti", disse um homem (com máscara), que se escapou do aglomerado, dirigindo-se a dois que assistiam ao longe. "Já viste em Vila Verde, como aquilo vai? Sessenta e tal casos. As pessoas encostam-se e aquilo pega-se", dizia.
Muita gente afastou-se, mas a festa não desmobilizou. Os tocadores juntaram-se numa roda e continuaram a tocar afastados. "Não estamos a matar, nem a roubar. Estamo-nos a divertir. Vem gente para aqui de Famalicão. Ai não haver isto quando eu tinha 40 anos. Quem me dera", exclamava uma mulher, vinda da freguesia de Extremo, Arcos de Valdevez, após conversar com um agente.
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Domingos e feriados
Festa espontânea que, há vários anos, acontece nas tardes de domingo e feriados, juntando centenas de pessoas a dançar ao som de concertinas, reco-recos e castanholas em Arcos de Valdevez
Apelo do autarca
O presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Esteves, apelou anteontem à contenção nos ajuntamentos ao domingo à tarde naquela vila, para evitar a propagação da covid-19.