Seis freguesias da Póvoa e de Barcelos vão oferecer um presépio original a todas as entidades que deveriam agir para evitar “o crime ambiental” no aterro da Resulima.
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Nossa Senhora, S. José e o menino Jesus tapam o nariz. Nem a sagrada família aguenta o “fedor” exalado pelo aterro de Paradela, em Barcelos. A original peça de artesanato, em barro, vai ser oferecida, pelas seis freguesias da Póvoa de Varzim e de Barcelos, afetadas pelos maus cheiros, a todas as entidades que “continuam a pactuar com o crime ambiental”.
O porta-voz dos autarcas e presidente da junta de Laundos, Félix Marques, espera que a peça “toque o coração” de quem a receber e ajude as instituições “a agir sem medo”.
“O nosso objetivo é que lhes toque no coração e que percebam o que nós vivemos aqui. Que este espírito natalício ajude estas instituições a exercer sem medo as suas competências e que nos devolvam a qualidade de vida que tínhamos”, frisou Félix Marques, numa conferência que juntou à mesa as freguesias de Laundos, Rates, Estela e Aguçadoura/Navais (Póvoa de Varzim) e Cristelo e Barqueiros (Barcelos).
Num levantamento feito pelas juntas desde março, em 278 dias, 160 foram de maus cheiros, que, nas seis freguesias, afetam mais de 16 mil pessoas. “Por outras palavras, dia sim, dia não fede. A zona de incomodidade chega a atingir uma área de 74 km2! O cheiro ‘voa’ sete quilómetros, afetando milhares de pessoas, em zonas residenciais, industriais e históricas, escolas e jardins-de-infância, lares, centros de dia, parques desportivos, praias, zonas de lazer e unidades hoteleiras. Como é que é possível, em pleno século XXI?”, questiona o presidente da junta de Laundos.
Para agravar o problema, há lixo a ser descarregado em aterro sem tratamento – uma situação já denunciada por juntas e Câmara da Póvoa – e, do lado de Barcelos, diz o presidente da junta de Cristelo, Abel Sá, “estradas todas danificadas pelos 300 camiões de recolha do lixo que ali passam todos os dias”, em vias que “não foram dimensionadas para pesados”.
Apesar dos inúmeros protestos de população, juntas e Câmara da Póvoa, a situação mantém-se há dois anos. “É tempo de dizer basta! Fomos pacientes o suficiente”, dizem os seis autarcas.
Em março, numa manifestação popular, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) “jurou a pés juntos” que o problema “ficaria resolvido até ao final deste ano” e prometeu “fiscalização implacável”. O diagnóstico está feito. São necessários seis milhões de euros de investimento. Até agora, só uma cortina arbórea foi feita. Nada resolveu.
O aterro tem uma licença provisória que termina a 31 de dezembro. As populações exigem, agora, que não seja renovada sem que sejam feitas as melhorias necessárias. A CCDR-N já chamou os autarcas a uma reunião no próximo dia 13. “Já viram que não vão cumprir”, diz Félix Marques.
As juntas explicam que as populações estão “saturadas”, garantem que haverá mais manifestações e o boicote à votação nas próximas eleições legislativas “pode ser uma hipótese”. A petição “Resulima Fede” já tem 1453 assinaturas. Precisa de 7500 para forçar a discussão do tema na Assembleia da República.
Quanto aos presépios, são 30 e serão enviados a entidades como a Presidência da República, a Comissão Europeia (que financiou a construção do aterro), o primeiro-ministro, o ministro do Ambiente, a CCDR-N, a Agência Portuguesa do Ambiente e a Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território.
