<p>Um, dois, três, quatro… Grandes, pesados, ameaçadores. E com pés pesados no acelerador, fazendo o motor rosnar. O portão em ferro da entrada de Cristina abana. Afinal, os camiões passam a menos de um metro das janelas da casa baixinha, dos peões mais ou menos temerários, de tudo. E bem ligeiros… </p>
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Mas, por implausível que pareça, até nem são os passeios perigosamente estreitos o que mais preocupa quem vive na Estrada Nacional 105, que atravessa o concelho de Santo Tirso. "Estou habituada. A maior parte das casas é à beira da estrada. Não há muito a fazer…". Cristina cresceu na "105", com quem tem 33 anos de convivência resignada: "Habituámo-nos ao barulho e a tudo". "Há passeio [do outro lado, onde se chega por uma passadeira no meio de uma recta sem semáforos] há dois, três anos. Era valeta, antes". Razão pela qual, portanto, se evitam críticas sobre as condições dos mesmos. Adão Pereira não resiste ao sabor da ironia: "Agora, estamos felizes porque temos passeio dos dois lados. Dantes, era só um".
E "lá em baixo", onde também mora Armandino Reis, a realidade continua a ser essa. "Se quiser passar para o passeio, é tanto carro que tenho de ir contra a mão", lamenta o morador em Lamelas, uma das piores zonas da estrada. "Em termos de trânsito, está horrível. Cada vez pior. Ninguém deixa passar os peões na passadeira", confirma Cristina, avançando explicação para o intenso tráfego: "Abriu a A41, mas quem vem do Porto não quer pagar portagem e vem por aqui".
Mais à frente, onde a EN 105 se chama Rua Vale do Leça, um poste de electricidade sustenta-se indeciso numa posição oblíqua… No chão, jazem restos de um carro que ali terá embatido: um farol de nevoeiro e indecifráveis pedaços de plástico. Cristina perdeu a conta aos acidentes. "São tantos!". E "já tem havido graves", avisa. No cruzamento adiante, por exemplo. "Uma rapariga ficou aleijada", lembra. Ou quando "um carro foi parar em cima do muro do café. Ficou lá pendurado. Outro, capotou lá ao fundo e veio parar aqui a casa. É cada susto…". Habituada a vigiar o trânsito, Cristina aponta: "Olhe agora. Saem dali [cruzamento] e nem vêem se vem alguém de baixo [da EN 105]. Em menos de duas semanas, houve três acidentes graves", contabiliza.
A norte, o cenário não melhora muito mais. "Por causa da velocidade", nota Arminda Rêgo, de Burgães. Parte do passeio por onde segue para casa, com pouco mais do que meio metro, obriga-a a aproximar-se da estrada: alguém se esqueceu de aparar as trepadeiras. "Alguém tem de fazer alguma coisa, mas o que vão fazer? Os carros não vão parar", diz Cristina.