Mais de 60 crianças e jovens vindos da guerra esperam por casa em centro de acolhimento em Lisboa há quase um mês.
Corpo do artigo
Cerca de 31 crianças e jovens que viviam na Ucrânia, mas não nasceram lá, ainda não encontraram casa em Lisboa porque "não são brancos" e "ninguém os quer", considerou a vereadora dos Direitos Sociais, Laurinda Alves, terça-feira, na Assembleia Municipal de Lisboa. A vereadora diz que "tem sido mais difícil" encontrar soluções para estes casos concretos, que estão há quase um mês no Centro de Acolhimento de Emergência da Câmara de Lisboa, quando o prazo médio de permanência neste espaço é de sete dias. Há 69 refugiados a viverem neste centro, por onde já passaram 2339.
O equipamento, instalado num pavilhão desportivo da Polícia Municipal, na freguesia de Campolide, tem atualmente 38 refugiados ucranianos e 31 da Índia, Marrocos, Argélia, Camarões, Costa de Marfim, Nigéria, entre outras nacionalidades. A maioria são alunos universitários, que estavam a estudar Medicina, Finanças, Arquitetura, entre outros cursos, na Ucrânia quando a guerra começou, em fevereiro, e fugiram para Portugal. Apesar das competências, não conseguem arranjar emprego nem casa.
"É uma realidade muito difícil e não é só racismo. No imaginário comum, se dissermos "um marroquino, um argelino, um rapaz que vem da Costa do Marfim, um muçulmano", as pessoas nem sempre sabem como é que hão de acolher porque são de culturas diferentes e há um choque cultural", defendeu a vereadora dos Direitos Sociais, anteontem na Assembleia Municipal de Lisboa. Laurinda Alves lembrou ainda que os jovens são "educadíssimos" e lamentou estarem a pernoitar no centro de acolhimento "há tempo demais, a dormir naquelas camas de burro".
Responsabilidade do Estado
O vice-presidente da Câmara, Filipe Anacoreta Correia, disse na quarta-feira ao JN "que a responsabilidade de acolhimento de refugiados é do Estado", apesar de este ter "encontrado sempre disponibilidade da Câmara para encontrar soluções".
O presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlov Sadokha, afirmou ao JN não ter conhecimento das dificuldades das 69 pessoas acolhidas pela Autarquia. "Vamos perceber como podemos ajudar. Mesmo que não tenham cidadania ucraniana, se vieram da guerra têm de ser recebidos tal como os nossos compatriotas ucranianos", considerou.
Um dos diretores da Associação Help UA, Ângelo Neto, disse que apoia "tanto na procura de casa como de emprego, desde que comprovem que viviam na Ucrânia". Desde o início da guerra, a associação diz que já ajudou "6000 refugiados vindos deste país para Portugal".